quarta-feira, 23 de março de 2011

Namoro Santo

              Ficar ou Namorar, uma questão de coerência.
     

E o Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda.'' (Gn 2,18).

Assim Deus providenciou ao homem uma ajuda que estivesse a sua altura, com a mesma dignidade. Isso por que o homem em si é precário e limitado, precisa da ajuda do outro. Quando a pessoa sai de si, o eu, que antes vivia isolado e sozinho, se transforma em uma fração de nós. Esse é o sentido do casamento, um encontro de duas pessoas que, consagrando-se uma à outra, formam uma comunidade cordial, mas para chegar até lá existe um caminho a percorrer que começa no namoro, ou até mesmo antes.
Muitos jovens estão perdendo de vista o real sentido do namoro como preparação para o casamento, e se entregando à aventuras afetivas do tipo ''ficar''.
Ficar é estar com um outro, mas sem compromisso, partilhando carícias e afetos num período de tempo muito rápido, de algumas horas até no máximo poucos dias. É satisfazer os desejos e tenções que vêm da precariedade humana fazendo uso do outro. O ficar é usar, e com isso, o eu continua fechado em si, numa individualidade agressiva que só pensa no ''próprio umbigo''.
Com certeza tudo isso tem um alto preço e traz conseqüências, pois o próprio nome já diz − ficar é troca de afeto, isso quer dizer que ficar afeta, produz algo no outro, e em nós mesmos se entramos nessa.
Diante de tudo isso a pergunta é: será que os jovens ficantes estão dispostos a pagar o preço por suas ações assumindo as conseqüências?
A lei física da ação e reação de Newton diz que para toda ação há uma reação, ou ainda como conta o dito popular ''o que se planta colhe''. Se existe leis tão certas e inflexíveis no mundo físico, não há como negar que também existem leis no mundo espiritual e das relações humanas. Um exemplo disso é o que São Paulo escreve: ''Quem semeia na própria carne, da carne colherá corrupção'' (Gl 6,8a), ou seja, quem semeia violência colherá violência, quem semeia vícios colherá vícios e quem semeia libertinagem não colherá outra coisa senão libertinagem.
É preciso ser coerente e responsável diante da realidade e investir naquilo que realmente trará bons frutos, ou seja, aquele que quer ser feliz com um bom casamento deve antes ter um namoro responsável e sadio para este desembocar em um casamento duradouro, pois ''quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a Vida eterna.'' (Gl 6,8b)

segunda-feira, 14 de março de 2011

NOME E ORIGEM


A Legião de Maria é uma Associação de católicos que, com a aprovação da Igreja e sob o poderoso comando de Maria Imaculada, Medianeira de todas as graças, (formosa como a lua, brilhante como o sol e, para Satanás e seus adeptos, terrível como um exército em ordem de batalha), se constituíram em Legião para servir na guerra, perpetuamente travada pela Igreja contra o mal que existe no mundo.

“Toda a vida humana, quer individual quer coletiva, se apresenta como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas” (GS 13).

Este exército, hoje tão numeroso, teve a mais humilde das origens. Não proveio de longas meditações: surgiu espontaneamente, sem premeditações de regras e práticas. Surgiu a idéia. Marcou-se uma tarde para a reunião de um pequeno grupo cujos componentes dificilmente supunham que estavam a ser instrumentos da Divina e amorosa Providência. O aspecto daquela reunião foi idêntico ao das reuniões legionárias que depois viriam a se efetuar em toda a terra. No meio do grupo, sobre uma mesa,com uma toalha branca, erguia-se uma imagem da Imaculada Conceição (igual à da Medalha Milagrosa) ladeada por dois vasos de flores e duas velas acesas. Esta disposição, tão expressiva no seu conjunto, fruto da inspiração de um dos primeiros a chegar, refletia perfeitamente o ideal da Legião de Maria. A Legião é um exército. E, antes mesmo de os legionários se reunirem, ela, a Rainha, já aguardava, de pé, aqueles que certamente atenderiam ao seu chamado. Não foram eles que a adotaram: foi ela que os adotou. E desde então, com ela marcharam e combateram, certos de que haviam de vencer e perseverar, precisamente na medida em que estivessem unidos a ela.
O primeiro ato coletivo destes legionários foi ajoelhar. Aquelas cabeças jovens e ardentes inclinaram-se. Rezou-se a Invocação e a Oração ao Espírito Santo; e depois, aqueles dedos que, durante o dia, haviam trabalhado arduamente, desfiaram as contas do terço, a mais simples das devoções. Terminadas as orações, sentaram-se e, sob a proteção de Maria (representada por sua imagem), aplicaram-se a procurar os meios de mais agradar a Deus e de O tornar mais amado neste mundo, que lhe pertence. Desta troca de impressões nasceu a Legião de Maria, com a fisionomia que hoje apresenta.
Que maravilha! Quem, considerando a humildade de tais pessoas e a simplicidade do seu procedimento, poderia prever, mesmo num momento de entusiasmo, o destino que em breve as esperava? Quem, dentre elas, poderia imaginar que estava sendo inaugurado um sistema que, sendo dirigido com fidelidade e vigor, possuiria o poder de comunicar, através de Maria, a doçura e a esperança às nações? Entretanto, assim havia de ser.
O primeiro alistamento dos legionários de Maria realizou-se em Myra House, Francis Street, Dublin, Irlanda, às vinte horas do dia 7 de setembro de 1921, véspera da festa da Natividade de Nossa Senhora. A organização nascente ficou conhecida no início como “Associação de Nossa Senhora da Misericórdia”, em virtude de o primeiro grupo ter tomado o título de “Senhora da Misericórdia”.
Circunstâncias, aparentemente casuais, determinaram o dia 7 de setembro, que parecia menos indicado que o seguinte. Só alguns anos depois – quando provas sem número de um verdadeiro amor maternal, levaram à reflexão – é que se compreendeu que, no ato do nascimento da Legião, esta recebera das mãos de sua Rainha uma enternecedora carícia.
 “Da tarde e da manhã se fez o primeiro dia” (Gn 1, 5); e com certeza os primeiros e não os últimos perfumes da festa da sua Natividade eram os mais apropriados aos momentos iniciais de uma organização, cujo principal e constante objetivo consiste em reproduzir em si própria, a imagem de Maria, de maneira a glorificar melhor o Senhor e a comunicá-lo aos homens.
“Maria é a Mãe de todos os membros do Salvador, porque ela, pela sua caridade, cooperou no nascimento dos fiéis, na Igreja. Maria é o molde vivo de Deus, porque foi só nela que um Deus-Homem se formou, de verdade, sem perder qualquer traço da sua divindade; e porque só nela é que o homem pode verdadeiramente e de uma maneira viva, formar-se em Deus, na medida em que a natureza humana disto é capaz, pela graça de Jesus Cristo” (Santo Agostinho).

“A Legião de Maria apresenta a verdadeira face da Igreja Católica” (João XXIII).

FINALIDADE DA LEGIÃO


A Legião de Maria tem como fim a glória de Deus, por meio da santificação dos seus membros, pela oração e cooperação ativa, sob a direção da autoridade eclesiástica, na obra de Maria e da Igreja: o esmagamento da cabeça da serpente e a extensão do reino de Cristo.
A menos que o Concilium aprove e as reservas apontadas no Manual Oficial da Legião, a Legião de Maria está à disposição do Bispo da Diocese e do Pároco para toda e qualquer forma de serviço social e de Ação Católica que estas autoridades julguem convenientes aos legionários e útil à Igreja. Os legionários nunca tomarão sobre si qualquer destas atividades numa Paróquia sem a aprovação do Pároco ou do Ordinário. Por “Ordinário”, nestas páginas, entende-se o Ordinário local, isto é, o Bispo diocesano ou outra autoridade eclesiástica competente.
a) “O fim imediato de tais organizações é o fim apostólico da Igreja, isto é, destinam-se à evangelização e à santificação dos homens e à formação cristã da sua consciência, de modo que possam fazer penetrar o espírito do Evangelho, nas várias comunidades e nos diversos ambientes.
b) Os leigos, cooperando a seu modo com a Hierarquia, contribuem com a sua experiência e assumem a sua responsabilidade no governo destas organizações, no estudo das condições em que a ação pastoral da Igreja se deve exercer e na elaboração e execução dos planos a realizar.
c) Os leigos agem unidos, como um corpo orgânico, para que se manifeste com maior evidência a comunidade da Igreja e para que o apostolado seja mais eficaz.
d) Os leigos, quer se ofereçam espontaneamente quer sejam convidados à ação e à direta colaboração com o apostolado hierárquico, trabalham sob a superior orientação da mesma hierarquia, a qual pode aprovar essa cooperação com um mandato explícito” (AA 20).
O ESPÍRITO DA LEGIÃO

O espírito da Legião é o próprio espírito de Maria, de quem os legionários se esforçarão, de modo particular, por adquirir a profunda humildade, a obediência perfeita, a doçura angélica, a aplicação contínua à oração, a mortificação universal, a pureza perfeita, a paciência heróica, a sabedoria celeste, o amor corajoso e sacrificado a Deus e, acima de tudo, a sua fé, virtude que só ela praticou no mais alto grau, jamais igualado. Inspirado nesta fé e neste amor de Maria, a Legião lança-se a toda a tarefa, seja ela qual for, “sem alegar impossibilidades, porque julga que tudo lhe é possível e permitido” (Imitação de Cristo, L. III: 5).
“O modelo perfeito desta vida espiritual e apostólica é a bem-aventurada Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos: levando na terra uma vida semelhante à do comum dos homens, cheia de cuidados
domésticos e de trabalhos, a todo o momento se mantinha unida a seu Filho e de modo singular cooperou na obra do Salvador... Prestem-lhe todos um culto cheio de devoção e confiem à sua solicitude materna a própria vida e apostolado” (AA 4).

SERVIÇO LEGIONÁRIO


1. O legionário deve “revestir-se da armadura de Deus” (Ef 6, 11).

A Legião Romana, cujo nome foi adotado pela organização, atravessou os séculos com uma gloriosa tradição de lealdade, de coragem, de disciplina, de resistência e de triunfos, embora a serviço de causas por vezes indignas, ou, pelo menos, puramente terrenas (Conferir Apêndice 4: A Legião Romana). Evidentemente que a Legião de Maria não pode apresentar-se à sua Rainha com menos virtudes que a Legião Romana, como se fosse uma jóia, mas sem as pedras preciosas que a enfeitam. As velhas virtudes daquele exército são, por conseguinte, o mínimo exigido para o serviço legionário.
S. Clemente, que foi convertido por S. Pedro e trabalhou com S. Paulo, propõe a Legião Romana como modelo a ser imitado pela Igreja.
“Quem são os inimigos? São os perversos que resistem à vontade de Deus. Lancemo-nos pois, resolutamente na batalha de Cristo e sujeitemo-nos às suas gloriosas ordens. Atentemos bem para os que servem na Legião Romana, debaixo das autoridades militares e notemos a sua disciplina, a sua prontidão, a sua obediência na execução das ordens. Nem todos são prefeitos ou tribunos ou centuriões ou chefes de cinqüenta homens ou de outro grau inferior de autoridade. Mas cada homem, na sua escala, executa as ordens do Imperador e dos seus Oficiais superiores. O grande não pode existir sem o pequeno, nem o pequeno, sem o grande. Uma certa unidade orgânica liga todas as partes, de modo que cada uma ajuda as demais e é ajudada por todas. Tomemos o exemplo do nosso corpo. A cabeça não é nada sem os pés e os pés não são nada sem a cabeça. Mesmo os mais pequenos órgãos do nosso corpo são necessários e de grande valor para o corpo inteiro. Com efeito, todas as partes trabalham unidas, em mútua dependência, e aceitam uma obediência comum para bem de todo o corpo” (S. Clemente, Papa e Mártir: Epístola aos Coríntios (AD. 96), cap. 36 e 37).

2. O legionário deve ser “uma hóstia viva, santa, agradável a Deus... não conformado com este século” (Rm 12, 1-2).

Deste alicerce, brotarão, no legionário fiel, virtudes tanto mais elevadas, quanto mais sublime é a sua causa, e, acima de tudo, uma nobre generosidade que será o eco das palavras de Santa Teresa d’Ávila: “Receber tanto e dar tão pouco em troca! Oh! É um martírio que me leva à morte”. Contemplando o Senhor Jesus crucificado que ofereceu por ele o último suspiro e a última gota de sangue, o legionário deverá esforçar-se por reproduzir no seu apostolado uma doação completa semelhante.
“Diz-me, meu povo: que mais devia eu ter feito pela minha vinha, além do que fiz?” (Is 5, 4).

3. O legionário não deve furtar-se ao “trabalho e à fadiga” (2Cor 11, 27).

Como recentes acontecimentos comprovam, haverá sempre lugares na terra, em que o zelo católico deve estar preparado para enfrentar a tortura ou a própria morte. Assim muitos legionários passaram o limiar da glória de maneira triunfal. Mas, em geral, a dedicação do legionário encontrará um campo de ação mais modesto, embora lhe ofereça ampla oportunidade para um heroísmo pacífico, que não será por isso, menos verdadeiro. O apostolado da Legião obrigará o contato com muitos que, preferindo ficar longe de qualquer influência salutar, manifestarão o seu desagrado ao receber a visita daqueles cuja única missão é espalhar o bem. É claro que todos poderão ser conquistados, mas somente o serão, à custa de um trabalho corajoso e paciente.
Olhares malévolos, injúrias e repulsas, caçoadas e críticas agressivas, o cansaço do corpo e do espírito, ânsias torturantes provenientes de insucessos e de dolorosas ingratidões, frio cortante, chuva que cega, lama e vermes, mau cheiro, ruas escuras, ambientes asquerosos, renúncia voluntária a prazeres legítimos, aceitação do sofrimento, próprio a todo o trabalho de apostolado, a angústia provocada em toda a alma delicada, perante a falta de religião e a libertinagem, a dor de quem partilha sinceramente o sofrimento do próximo – tudo isto não encerra encanto algum para a natureza; mas, suportado com doçura e até com alegria, levado com perseverança até o fim, aproximar-se-á, na balança divina, daquele amor, o maior de todos, que consiste em dar a vida pelo amigo.
“Que darei eu ao Senhor por todos os benefícios com que Ele me cumulou?” (Sl 116, 12).

4. O legionário deve “andar no amor, como também Cristo nos amou e se entregou a Si mesmo por nós” (Ef 5, 2).

O segredo do bom êxito junto do próximo está em estabelecer com ele um contato pessoal, contato de amor e de simpatia. Este amor deve ser mais do que aparência. Tem se de ser capaz de resistir às provas da verdadeira amizade, o que obrigará freqüentemente, a certo número de sacrifícios. Cumprimentar, em meios de certa distinção, alguém que pouco antes visitamos na cadeia; acompanhar publicamente pessoas andrajosas, apertar efusivamente mãos pouco limpas; compartilhar de uma refeição oferecida numa casa pobre ou suja: eis o que pode ser custoso para muitos. Mas, se assim não procedermos, a nossa amizade passará por simulação: perde-se o contato e a alma que estava a ser elevada afunda-se de novo na desilusão.
Na raiz de todo o trabalho verdadeiramente fecundo deve estar o firme propósito de uma doação total de nós próprios. Sem esta disposição, o apostolado não tem base. O legionário que delimita o seu zelo declarando: “Sacrificar-me-ei até aqui, mas não mais”, embora gaste grandes energias, realizará apenas um trabalho insignificante. Pelo contrário, se esta boa vontade existe, ainda que nunca ou só em pequena escala, seja chamada a atuar, não deixará de ser poderosamente produtiva em grandes obras.
“Jesus respondeu-lhe: darás a tua vida por Mim? (Jo 13, 38).

5. O legionário deve “acabar a sua carreira” (2Tm 4, 7).

Assim, o serviço a que a Legião chama os seus soldados, não tem limites nem restrições. Não se trata de um simples conselho de perfeição, mas de uma necessidade, porque, se não visamos a um tal objetivo, a perseverança no organismo é impossível. Manter-se durante uma vida inteira, no trabalho de apostolado, constitui por si mesmo, heroísmo que só será atingido por uma série contínua de atos heróicos que encontram a sua recompensa, na própria perseverança.
Mas a perseverança não é uma característica própria só do indivíduo. Todo e cada um dos múltiplos deveres da Legião deve levar o cunho de um esforço constante. Mudanças acontecerão necessariamente: pessoas e lugares diferente que se visitam, trabalhos que terminaram, substituídos por novos empreendimentos. Tudo isto, porém, é o resultado da variação constante da vida e não o fruto de inconstância caprichosa e de uma curiosidade sedenta de novidade, que acaba por arruinar a melhor disciplina. Receosa deste espírito de instabilidade, a Legião apela incessantemente para um espírito cada vez mais firme dos seus membros, mandando-os depois de cada reunião para as suas tarefas, levando consigo uma senha imutável: “Firme!”
A execução perfeita depende de um esforço contínuo que, por sua vez, é o resultado de uma vontade indomável de vencer. Para obter esta firmeza da vontade é essencial nunca ceder, nem pouco, nem muito. Por isso a Legião impõe a todos os seus ramos e a todos os seus membros, uma atitude firme que não combine com a aceitação de qualquer derrota ou com a tendência que leve a qualificar este ou aquele pormenor do trabalho legionário com os termos de “prometedor”, “pouco prometedor”, “desesperador”, etc. A facilidade de classificar de “desesperador”, este ou aquele caso, acaba permitindo que uma alma de preço infinito continue livre e desenfreadamente a sua corrida descuidada para o inferno. Além disso, esse comportamento mostra que existe um desejo irresponsável de mudanças e de progresso visível, que tende a substituir o motivo mais sublime do apostolado, por outro menos elevado. E então a não ser que a semente brote debaixo dos pés do semeador, surge o desânimo e cedo ou tarde o trabalho é abandonado.
Mais ainda: a Legião declara com insistência que o ato de classificar qualquer caso de desesperado enfraquece automaticamente a atitude a assumir perante outros casos. Consciente ou inconscientemente, iniciar-se-á qualquer trabalho com espírito de dúvida, perguntando-nos se vale ou não o esforço a ser empregado. A menor sombra de dúvida paralisa a ação. E o pior é que a fé deixará de atuar com a intensidade que se espera dela nos empreendimentos da Legião, pois apenas se lhe permite modesta interferência, quando alguma coisa parece razoável. Então a fé, bloqueada dessa maneira e barrada as suas resoluções, aparecerão imediatamente a timidez natural, a mesquinhez, a prudência do mundo, até ali abafadas, e a Legião vai se encontrar diante de um serviço feito por acaso ou indiferente, que constitui oferta vergonhosa, indigna do Céu.
Eis porque a Legião não se interessa senão secundariamente pelo programa de trabalho; ela se preocupa em primeiro lugar, com a intensidade do ardor colocado na sua realização. Não exige dos seus membros, riqueza ou influência, mas uma fé firme, não exige grandes feitos, mas, unicamente um esforço que não esmoreça; não exige talento, mas um amor que nunca se satisfaça; não exige uma força gigantesca, mas uma disciplina contínua. O trabalho do legionário deve ser inflexível e firme, recusando-se sempre a admitir qualquer desânimo. No momento da crise, deve ser uma rocha e em todos os momentos, constante. Deve esperar o bom êxito de maneira humilde, mas nunca ser seu escravo. Na luta contra os insucessos, deve ser um corajoso combatente, jamais desanimando, colocando-se sempre acima das dificuldades e monotonias, porque elas lhe oferecem ocasião de provar a sua energia e a sua fé. Pronto e resoluto, se o chamam; sempre alerta, quando na reserva; e mesmo sem combate, sem inimigo à vista, sempre de sentinela, pela causa de Deus. Com o coração cheio de ambições insaciáveis, mas contente com a função humilde de tapar uma brecha; nenhum trabalho excessivo; nenhuma tarefa desprezível demais; em tudo, a mesma cuidadosa atenção, a mesma paciência inesgotável, a mesma coragem férrea; em cada tarefa a marca profunda da mesma firmeza inalterável. Sempre a serviço do próximo, sempre à disposição dos fracos para os ajudar a atravessar as horas difíceis de desânimo, sempre de guarda, à espera do momento em que surpreenda naquele que até então teimava no erro, um sinal de sensibilidade; e sempre incansável à procura dos transviados. Esquecido de si mesmo: permanecendo junto da cruz de seus irmãos e não abandonando o seu posto, senão quando tudo estiver consumado.
Nunca o desânimo deve penetrar nas fileiras de uma associação consagrada à “Virgem Fiel” e que – para honra ou desonra – usa o seu nome.


ESPIRITUALIDADE DA LEGIÃO


As orações da Legião refletem os princípios básicos da sua espiritualidade. A Legião alicerça-se, em primeiro lugar, numa inabalável Fé em Deus e no amor que Ele dedica a Seus filhos, de cujos esforços quer tirar motivo de glória. Por isso, deseja Deus purificá-los e torná-los fecundos e duradouros. Quando nos deixamos dominar pela indiferença ou por uma ansiedade febril, é porque pensamos que Ele não passa de mero espectador do nosso trabalho. Deveríamos antes tomar consciência de que, se as boas intenções brotam em nós, é porque Ele aí as semeou e só frutificarão, se a sua virtude nos amparar a todo o momento. Deus se preocupa mais com o bom êxito do nosso trabalho do que nós próprios: esta ou aquela conversão, em que nos empenhamos, deseja-a Ele infinitamente mais do que nós. Queremos ser santos? Por isso, suspira Ele mil vezes mais do que nós mesmos.
A convicção da colaboração onipotente de Deus, bondoso Pai, no trabalho da santificação pessoal e no serviço a favor do próximo, deve constituir o apoio fundamental para os legionários. No caminho do bom êxito, só pode haver um obstáculo: a falta de confiança. Tenhamos fé bastante e Deus se servirá de nós para conquistar o mundo.
“Porque todo aquele que nasceu de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (1Jo 5, 4).
Acreditar quer dizer “abandonar-se” à própria verdade da palavra de Deus vivo, sabendo e reconhecendo humildemente “quanto são impenetráveis os seus desígnios e desconhecidos os seus caminhos” (Rm 11, 33). Pela eterna vontade do Altíssimo, veio Maria a encontrar-se, por assim dizer, no próprio centro dos “desconhecidos caminhos” e dos “impenetráveis desígnios” de Deus e conforma-se a eles na obscuridade da fé, aceitando plenamente e com o coração aberto, tudo quanto é disposição dos desígnios divinos (RMat. 14).

1. Deus e Maria

Abaixo de Deus, é sobre a devoção a Maria, “maravilha inefável do Altíssimo” (Pio IX), que a Legião se fundamenta. Mas qual a posição de Maria em relação a Deus? Como todos os mortais foi tirada do nada; e embora Deus a sublimasse a um “estado de graça imenso e inconcebível”, diante do Criador Ela não passa do nada. Na verdade ela é, por excelência, a Sua criatura porque Ele a trabalhou mais que nenhuma outra. Quanto mais Deus opera maravilhas em Maria, tanto mais Ela se torna obra das Suas mãos.
Que grandes prodígios não realizou em seu favor!
Com a idéia do Redentor, ela esteve presente no pensamento de Deus desde toda a eternidade. Associou-a aos secretos desígnios dos Seus planos de graça, tornando-a a verdadeira Mãe do Seu filho e daqueles que a Seu Filho estão unidos. Fez todas estas coisas porque, em primeiro lugar, Ele receberia de Maria, um ganho superior ao de todas as criaturas reunidas; e ainda porque estava, no Seu plano, de maneira inatingível às nossas pobres inteligências, aumentar por este meio, a glória que de nós próprios havia de receber. Assim, a oração e o serviço amoroso com que testemunhamos a nossa gratidão a Maria, nossa Mãe e auxiliadora da nossa salvação, não podem representar prejuízo para Aquele que assim a criou. O que damos a Maria não vai menos direta e inteiramente para Ele; não apenas é transmitido na sua integridade, mas acrescentado com os méritos da intermediária. Maria é mais do que uma fiel mensageira. Constituída por Deus, elemento vital do Seu plano de misericórdia, a sua presença acrescenta ao mesmo tempo, a glória de Deus e a nossa graça.
Assim como foi do agrado do eterno Pai receber por intermédio de Maria, as homenagens que Lhe são dirigidas, assim se dignou, por Sua grande misericórdia, escolher Maria para ser o canal pelo qual serão derramadas sobre a humanidade as diversas demonstrações da Sua onipotência e generosa bondade, começando pela causa de todas elas – a segunda Pessoa divina, encarnada, nossa verdadeira vida, nossa única salvação.
“Se quero tornar-me dependente da Mãe é para me tornar o escravo do Filho. Se desejo tornar-me sua propriedade é para prestar a Deus com mais segurança, a homenagem da minha sujeição” (Sto. Ildefonso).

2. Maria, Medianeira de todas as graças

A confiança da Legião em Maria é ilimitada, porque sabe que, por decreto divino, o seu poder não tem limite. Deus deu a Maria tudo quanto lhe podia dar. Tudo o que ela podia receber, recebeu-o plenamente. Deus constituiu-a para nós um meio extraordinário de graça. Atuando em união com ela, aproximamo-nos mais de Deus; e por isso adquirimos mais abundantes graças, visto nos colocarmos na própria corrente da graça, pois Maria é a esposa do Espírito Santo, o canal de todas as graças merecidas por Jesus Cristo. Nada recebemos que não devamos a uma positiva intercessão da sua parte. Não se contenta com transmitir-nos tudo: tudo nos obtém. Penetrada de uma fé viva nesta função medianeira de Maria, a Legião impõe-na aos seus membros como uma devoção especial.
“Julgai com que amor ardente quererá Deus que honremos Maria, pois derramou nela a plenitude dos Seus dons, de tal sorte que tudo que possuímos, esperança, graça, salvação, tudo, – não duvidemos disso – tudo vem dela para nós” (S. Bernardo: Sermo de Aquaeductu).

3. Maria Imaculada

O segundo aspecto da devoção da Legião a Maria é o culto da Imaculada Conceição. Logo na primeira reunião os membros rezaram e deliberaram em volta de um altarzinho da Imaculada Conceição, idêntico àquele que hoje forma o centro de todas as reuniões legionárias. Além disso o primeiro sopro de vida da Legião foi uma jaculatória em honra desse privilégio de Nossa Senhora, que constitui a preparação para todas as dignidades e privilégios que depois lhe foram concedidos.
Deus já tinha se referido à Imaculada Conceição, quando, no Gênesis, nos prometeu Maria. Este privilégio faz parte integrante de Maria: Maria é a Imaculada Conceição. Com este privilégio, a Sagrada Escritura anuncia as suas celestes conseqüências: a Maternidade Divina de Maria, o esmagamento da cabeça da Serpente, pela Redenção e, em relação aos homens, a Sua Maternidade espiritual.
“Eu porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua descendência e a dela: ela te esmagará a cabeça ao tentares mordê-la no calcanhar” (Gn 3, 15). É nestas palavras dirigidas pelo Onipotente a Satanás, que a Legião procura e encontra a confiança e a força na guerra contra o pecado. Ela aspira, por isso, de todo o coração, a tornar-se plenamente a descendência eleita de Maria, porque só assim terá o penhor da vitória: quanto mais os seus membros se tornarem verdadeiros filhos da Imaculada, tanto mais aumentará a sua hostilidade contra as potências do inferno e tanto mais completa será a sua vitória.
“A Sagrada Escritura, no Velho e no Novo Testamento e a venerável Tradição, mostram, de modo progressivamente mais claro, e de certa forma nos apresentam o papel da Mãe do Salvador na economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação, na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo, ao mundo. Esses antigos documentos, tais como são lidos na Igreja e interpretados à luz da plena revelação posterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura de uma mulher, a Mãe do Redentor. Vista sob esta luz, Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa da vitória sobre a serpente (cfr. Gn 3, 15), feita aos primeiros pais caídos no pecado” (LG 55).

4. Maria, nossa Mãe

Se pretendemos a herança de filhos, devemos estimar a maternidade que nos dá direito a ela. O terceiro aspecto da devoção a Maria consiste em honrá-la como nossa verdadeira Mãe, que de fato o é.
Maria tornou-se a Mãe de Jesus Cristo e nossa Mãe no momento em que, respondendo à saudação do Anjo, exprimiu o seu humilde consentimento: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). A sua maternidade foi proclamada, no momento em que atingiu a sua completa expansão, isto é, quando a Redenção se consumava. No meio das dores do Calvário disse-lhe Jesus do alto da Cruz: “Mulher, eis aí o teu filho” e a S. João: “Eis aí a tua Mãe” (Jo 19, 26-27). Na pessoa de S. João, estas palavras foram dirigidas a todos os eleitos. Cooperando plenamente pelo seu consentimento e pelas suas dores neste nascimento espiritual da humanidade, Maria tornava-se no mais pleno e perfeito sentido, nossa Mãe.
Visto que somos seus verdadeiros filhos, devemos nos comportar como tais e, como autênticas criancinhas, depender inteiramente dela. Devemos pedir-lhe que nos alimente, nos guie, nos instrua, cure os nossos males, console as nossas mágoas, nos aconselhe nas dúvidas e nos chame quando nos extraviarmos; de maneira que, inteiramente entregues aos seus cuidados, cresçamos na semelhança do nosso irmão mais velho, Jesus, e participemos da sua missão de combate e vitória sobre o pecado.
“Maria é Mãe da Igreja não só por ser Mãe de Jesus Cristo e a sua mais íntima colaboradora ‘na nova Economia, quando o Filho de Deus assume dela a natureza humana, para, mediante os mistérios da sua carne, libertar o homem do pecado’, mas também porque ‘brilha para toda a comunidade dos eleitos, como modelo de virtude’. Como, na verdade, cada mãe humana não pode limitar a sua
missão à geração de um novo homem, mas deve alargá-la à nutrição e à educação dos filhos, também assim se comporta a bem-aventurada Virgem Maria. Depois de ter participado do sacrifício redentor do Filho, e de maneira tão íntima que lhe fez merecer ser por ele proclamada Mãe não só do discípulo João, mas – seja consentido afirmá-lo – do gênero humano, por este de algum modo representado, Ela continua agora no céu a cumprir a sua função materna de cooperadora no nascimento e no desenvolvimento da vida divina em cada alma dos homens remidos. Esta é uma consoladora verdade que, por livre consentimento do sapientíssimo Deus, faz parte integrante do mistério da salvação humana: por isso ele deve ser considerada como de fé por todos os cristãos” (SM).

5. A devoção legionária, raiz do seu apostolado

Um dos mais queridos deveres da Legião consistirá em manifestar uma sincera devoção à Mãe de Deus. Isso só poderá ser realizado por intermédio dos seus membros, estando pois cada um deles obrigado a trabalhar nesse sentido, através de sérias meditações e zelosas práticas.
Ora, para que esta devoção seja, em verdade, um tributo da Legião, deve constituir uma obrigação essencial para a qual devem concorrer todos em perfeita unidade – obrigação tão importante como a da reunião semanal ou a do apostolado: eis aqui um ponto em que nunca será demais insistir.
Mas esta unidade é extremamente delicada, pois depende, dentro de certa medida, da colaboração de cada membro, que pode infelizmente comprometê-la. Compete a cada um o dever de velar cuidadosamente por ela. Se esta unidade falhar, se os legionários não forem como que “pedras vivas de uma construção, um edifício espiritual” (1Pd 2, 5), uma parte vital da estrutura da Legião será mutilada. Se as pedras vivas não se assentarem de maneira conveniente, o sistema legionário caminhará para a ruína e não abrigará nem conseguirá reter os seus filhos, senão com dificuldade. E não será mais aquilo para o que foi criado: um lar de nobres e santas virtudes, um ponto de partida para decisões heróicas.
Ao contrário, se todos formarem um bloco no cumprimento perfeito deste dever do serviço legionário, não só a Legião se distinguirá entre todas as organizações pela sua elevada devoção a Maria, mas se distinguirá também por uma maravilhosa unidade de espírito, de fim e de ação. Esta unidade é tão preciosa aos olhos de Deus que a revestiu de um irresistível poder. Se, para o indivíduo, a verdadeira devoção a Maria é um canal extraordinário de graça, que não será ela para uma organização que persevera, num mesmo espírito, em oração, com aquela (At 1, 14) que tudo recebeu de Deus; que participa do seu espírito e entra plenamente nos desígnios divinos no que respeita à distribuição da graça?! Por acaso tal organização não será cheia do Espírito Santo? (At 2, 4). E de quantos “prodígios e milagres” não será capaz? (At 2, 43).
“A Virgem no Cenáculo, orando no meio dos Apóstolos e por eles, com uma intensidade indizível, atrai sobre a Igreja este tesouro, que nela abundará por todo o sempre: a plenitude do Espírito Consolador; dom supremo de Cristo” (JSE).

6. Oh! Se Maria fosse conhecida!

Ao sacerdote que luta quase desesperado num mar de indiferença religiosa, recomendamos as palavras do Padre Faber, encontradas no prefácio de “A Verdadeira Devoção a Maria” (fonte abundante de inspiração para a Legião), da autoria de S. Luís de Montfort. Esta página poderá servir de preparação para o exame das vantagens e benefícios que lhe podem advir da Legião. O Padre Faber afirma, em síntese, que Maria não é suficientemente conhecida e amada, com grave prejuízo para as almas: – “A devoção que se lhe consagra é pequena, magra e pobre. Não confia em si própria. Por isso Jesus não é amado, os hereges não são convertidos, a Igreja não é exaltada; por isso, as almas que poderiam ser santas enfraquecem e degeneram; os sacramentos não são devidamente freqüentados; as almas não são evangelizadas com ardente zelo apostólico. Jesus é pouco conhecido, porque Maria é posta em segundo plano. Milhares de almas se perdem, porque Maria lhes é recusada. E esta sombra miserável e indigna, a que ousamos chamar a devoção à Virgem Santíssima, é a causa de todas estas misérias e prejuízos, males e omissões e fraquezas. Todavia, se tomarmos em devida consideração as revelações dos Santos, Deus insiste por uma devoção à Sua Mãe Santíssima, maior, mais larga, mais vigorosa, totalmente outra. Que alguém experimente esta devoção em si próprio, e a surpresa perante as graças que ela traz consigo e as transformações que produz na alma, vão convencê-lo da sua quase incrível eficácia como meio de obter a salvação dos homens e a chegada do Reinado de Jesus Cristo”.
“À Virgem poderosa é dado o poder de esmagar a cabeça da Serpente; às almas unidas a ela, é dado vencer o pecado. Devemos crer nisto com inabalável fé, com uma firme esperança”.
Deus que nos dar tudo; tudo depende agora de nós e de ti, por quem tudo é recebido e economizado, por quem tudo é transmitido, ó Mãe de Deus! Tudo depende da união dos homens com aquela, a quem Deus tudo confia” (Gratry).

7. Levar Maria ao mundo

Visto que a devoção a Maria realiza tais prodígios, a nossa preocupação deve consistir em tornar fecundo, semelhante instrumento; numa palavra, deve consistir em levar Maria ao mundo. Como conseguir isto com mais eficiência, senão por uma organização de apostolado? Uma organização leiga e, portanto ilimitada, quanto ao número dos seus membros; uma organização ativa, podendo por isso penetrar em toda parte, uma organização que ama Maria, com todas as forças e que se compromete a infundir esse amor em todos os corações, utilizando para isso todos os meios de ação.
Assim, usando o nome de Maria, com valor indizível, baseada numa confiança ilimitada e filial na sua Rainha, tornada mais sólida e firme pelo enraizamento profundo no coração de cada um, constituída por membros que trabalham em perfeita harmonia de lealdade e disciplina – a Legião de Maria não considera presunção, antes confiança legítima, o pensar que o seu sistema forma um poderoso mecanismo que, para envolver o mundo, exige apenas ser acionado pela mão da Autoridade. Maria se dignará então empregá-la como instrumento, para realizar nas almas, a sua obra maternal e levar avante a sua perpétua missão de esmagar a cabeça da serpente.
“Todo aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão e minha irmã e minha mãe” (Mc 3, 35). “Que prodígio e que honra! A que sublimidade de glória Jesus nos eleva! As mulheres proclamam bem-aventurada aquela que O deu à luz; e, todavia, nada as impede de participarem da mesma maternidade. É que o Evangelho nos fala aqui de uma nova forma de geração, de um novo parentesco” (S. João Crisóstomo).




















FALAR DA LEGIÃO É UM PRAZER MUITO GRANDE E É UM PRIVILÉGIO ESTAR INSERIDA EM SUAS FILEIRAS.


O que é Legião?

É uma associação de leigos católicos, sob a proteção de Nossa Senhora e com aprovação da Igreja, que pela oração e pelo trabalho ativo apostólico, promove a santificação de seus legionários. A Legião tem apenas em vista o bem espiritual e, portanto, não dá auxílio material.

Onde foi fundada?

Na Irlanda em 1921 e se espalhou pelo mundo inteiro, chegando ao Brasil em 1951. O primeiro grupo foi formado no Rio de Janeiro, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, na Rua do Riachuelo. Está em todo o Brasil, nos mais longínquos lugares, numa expansão continuada. Há legionários que vão à Amazônia para fundar Praesidia e voltam lá para mantê-los unidos e com trabalhos corajosos.

Quem pode ingressar na Legião?

Todos os católicos praticantes que o desejarem, homens e mulheres, casados e solteiros, sem distinção de classe, profissão ou cultura e até jovens abaixo dos 18 anos.

Como é constituída a Legião?

De duas categorias: legionários ativos e legionários auxiliares.

O que fazem os ativos?

Comprometem-se a orar e a visitar, num trabalho ativo de apostolado espiritual, que é orientado através de reuniões semanais obrigatórias. Como também a ler o manual, que orienta a vida legionária e mantém os legionários ligados ao ideal para o qual a Legião foi criada. A Legião de Maria é, portanto, a vida do cristão em oração e ação.

A quem os legionários ativos visitam?

Fazem visitas domiciliares a idosos, famílias enlutadas, doentes e sempre que houver necessidade de uma palavra amiga e confortadora.
Visita também hospitais, presídios, orfanatos, asilos; dentro da área consignada à Paróquia.

E os legionários auxiliares o que fazem?

As pessoas que não podem freqüentar as reuniões, nem realizar o trabalho de apostolado legionário. Mas podem contribuir com suas orações para a obra que Nossa Senhora faz, por intermédio dos legionários ativos, isto é, ajudam os legionários ativos a serem bem sucedidos nas suas visitas.

Quais são as orações diárias?

É recomendado reza do terço e da Tessera toda, tanto para ativos, como auxiliares.

Os legionários são responsáveis pela salvação dos irmãos?

Sim, deve-se trabalhar pela própria santificação e pela de todos os membros do corpo místico de Cristo e é, com esta finalidade, que os legionários trabalham.

O que diz o Manual sobre a Legião?

Na página 12 a reflexão é essa:
“O espírito da Legião é o próprio espírito de Maria, especialmente imitar profundamente a humildade de Maria, sua perfeita obediência, sua oração constante, sua paciência heróica, sua sabedoria celeste, seu amor corajoso e sacrificado a Deus e acima de tudo, sua fé”.

Se nota que algumas pessoas se surpreendem com a disciplina rígida da Legião, espantam-se porque não conhecem de quem os legionários estão seguindo o exemplo. Mas quando tomam conhecimento, aos poucos, passam a compreender o desejo de imitar Nossa Senhora.
Portanto, a finalidade da Legião de Maria é um convite à comunhão, pois o ser humano torna-se um solidário devido às suas fraquezas, que o dividem e o isolam. Só o amor pode vencer e selar a unidade.
A Legião convida a inserção numa comunidade como um ingresso a um exército. Assim diz a Catena:
“Quem é esta que avança, como a aurora, formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível com um exército em ordem de batalha.”

O modelo está no exército dos imperadores romanos, o melhor de todos os tempos, que era submisso às autoridades militares, com disciplina, presteza e obediência. Os legionários são fortes, não porque pertencem a um exército comum, mas por serem inseridos a uma comunidade de fé, sob a proteção de Maria.

Se a Legião é uma comunidade de fé, o que os legionários mais atentos aprendem?

* Aprendem que cada um contribui dentro dos seus limites pessoais e cada um respeita os limites pessoais do outros. Todos têm limitações, e quando há esse reconhecimento o convívio melhora. Ou seja, só ocorre o reconhecimento dos limites dos outros, se houver o próprio reconhecimento de limite.
* instruir-se a reconhecer suas fraquezas e a saber que o amor que se exprimi é parte de um amor maior, que é Deus. É a graça de Deus para todos.
* Os legionários descobrem que a sua vida é um dom a ser repartido. Aprendem com as visitas a serem mais solidários.
* A valorização do ser humano, acima do resultado dos esforços. Aprendem o que vale é o esforço e não o resultado. Os olhos humanos nem sempre são bem sucedidos.
* A encontrar forças nas perdas e esperança nas dificuldades. Assim se fortifica a fé.
* Que é necessário carregar os defeitos e sofrimentos uns dos outros. Sendo mais tolerantes.
* Que não se pode reconhecer uns aos outros pela mente, só pela comunhão de Deus. Que todos são iguais, mas somente se estiverem ligados a Deus.
* Todos têm acesso à mesma infinitude. Todos são co-herdeiros com Cristo em Deus. Há um laço invisível entre todos que tocam a comunhão interior. Pelo menos em certa medida, uns mais, outros menos, depende de cada um.
* Que a cooperação amorosa mantida, uns com os outros demonstra unidade com Deus e com toda a sua maravilhosa criação.
Jesus recomenda em JO 15, 4-5:
“Permanecei em mim, como eu em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanece na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque, sem mim, nada podeis fazer.”

Portanto, o que é necessário é deixar fluir o amor divino que está dentro de cada um, indo ao encontro de quem, naquele momento, esteja precisando.

“A Legião é um milagre dos tempos modernos, pois foi reconhecido que só com a participação de todos pode se ter um mundo melhor.”

Os legionários devem se esforçar, com a ajuda de Maria, a ir ao encontro de quem precisa. Fazendo uma ponte entre a Paróquia e os paroquianos;
A Legião de Maria é um “apostolado gratificante.” E ela está de portas abertas para quem queira fazer parte deste apostolado gratificante. Nossa Mãe Maria e os legionários ficam contente com o ingresso de mais soldados.

                                          Juventude e espiritualidade mariana.


Num mundo repleto de maldade,a Igreja vê na juventude a esperança de um futuro melhor.Daí a importância de os jovens estarem em oração e serem vigilantes na expectativa do Reino de Deus.
A exemplo de Maria e dos Apóstolos de Cristo,nos reunimos diariamente para meditarmos os mis térios do Santo Rosário e suplicar a intercessão da mãe santíssima,por meio da Catena Legionis.Este momento maravilhoso raliza-se às 19:00 hs.
Na sexta-feira,dia 11,à tarde saímos para evangelizar de casa em casa,apesar do ânimo,contudo, os desafios não foram fáceis.Pois nos deparamos com situações inusitadas que nos entristecia o coração.Tudo o que acontecia ponderavamos em silêncio,no coração.
Porém Maria,a mãe de Deus,estava sempre presente,nos conduzindo em nossas atitudes.Cheios das bençãos de Deus e com muita simplicidade,retornamos vitoriosos e fortalecidos com o êxito de nosso trabalho.
Á noite,no mesmo dia,houve a Santa Missa em ação de graças pelo Praesidium Juvenil Vaso Honorífico.Na qual,cada membro,envolvido pela mística mariana,pode auxiliar o Sacerdote em sintonia com o mistério eucarístico celebrado.
O jovem legionário trás consigo a alegria de servir a Maria,aprendendo d'Ela a mansidão,a caridade,a compreensão e a profunda humildade,refletindo assim dentro de seu lar e na sociedade a verdadeira união e a paz que só os que conhecem e vivem na unidade da Igreja conseguem sentir.
Maria,como nas Bodas de Caná,continua intercedendo por seus filhos e filhas e dando-lhes força para superar as dificuldades da vida e seguirmos em frente.
Ela nos ensina a servimos a Deus com generosidade e gratidão,pois é por meio dele que recebe mos nossa missão.
Salve Maria!

                                                                                                                                       Davi Luciano Dias

quarta-feira, 9 de março de 2011

O Cristão no mundo.

"Vós sois o sal da terra.Ora,se o sal se estragar,com que se salgará?Não serve mais para nada.Pode ser jogado fora e pisado pelos homens.Vós sois a luz do mundo.Não é possível esconder uma cidade situada sobre um monte.Nem se ascende uma luz para pôr debaixo da mesa,mas sobre um candelabro,para que ilumine todos que estão em casa.Assim brilhe vossa luz diante dos homens,para que vejam vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus"(Mt 5,13-16).

                    A missão do cristão no mundo

      A missão de ser"sal da terra e luz do mundo" é comum a todos os cristãos.É através de nós que a Igreja cumpre a sua missão evangelizadora no mundo:na política,na economia,na realidade social,nos meios de comunicação social,na família,na civilização do amor,na escola,na educação das crianças e dos adolescentes,no campo da ciência,da arte,da cultura e nas diversas profissões.
     
                  


                      Prepare-se para ser "sal e luz"

       Pelo Batismo somos chamados a participar,não só da Igreja,mas de toda a missão evangelizadora,que se estende a toda sociedade e a todas as criaturas(Cf.Mc 16,15).E isto não é nada fácil.Quando o cristão começa a ser "luz do mundo",ele passa a ser rejeitado por aqueles que agem nas trevas.Jesus disse:"Quem faz o mal detesta a luz e foge dela,para que suas sombras não sejam descobertas"(Jo 3,20).
      A política,por exemplo,é um campo a ser evangelizado.Muitos cristãos,porém,dizem:"Eu nem quero saber de política.É coisa suja".E,de fato,há muita corrupção na política.Mas ela não vai melhorar enquanto os bons não forem políticos.Pelo contrário:quanto mais pessoas honestas e de bem ficarem fora da política,mais desonesta será a política.É claro,porém,que ninguém deve entrar na política se não tiver capacidade para isso.Estou falando do dever de cada cristão colocar seus "dons" a serviço da evangelização.
      Daí a necessidade de os cristãos se prepararem bem para participar de maneira eficaz na "construção de uma sociedade justa e fraterna",militando,inclusive,no campo difícil da política.Sem uma formação sólida,baseada no Evangelho,e sem a força do Espírito de Deus,o cristão,por mais bem intensionado que esteja,acabará caindo na jogada dos corruptos,que entram na política,não para servir o povo,mas para se enriquecer à custa do povo.

sábado, 5 de março de 2011

Buscando o verdadeiro sentido da vida.

Em meio a uma sociedade que valoriza a fuga em detrimento do encontro de soluções para seus próprios problemas,é grande o número de pessoa levadas a pensar,e até mesmo a acreditar,que as drogas possam ser uma saída para seus conflitos individuais.Porém,essas mesmas pessoas nem sempre estão atentas aos efeitos nocivos desses escravizadores.
É importante que os jovens se auto-estimem e que a educação que recebem englobe a educação afetiva.A droga e o sexo são caminhos fáceis mostrados por aqueles que querem ver os jovens fraquejar,ser subordinados,aprisionados,comprometendo o futuro do país.
Portanto previna-se e tenha a prudência necessária,afastando-se do mal e da escravidão.Os conflitos da adolescência passam.A droga continua por toda a vida.
Jovem,sua vida é de grande imprtância.Talvez você ainda não saiba a dimensão dela.É preciso,contudo,escolher hoje para ser feliz amanhã.Esse é o período para dar sentido à vida.
Saiba que há muitos que vendem ilusões e seduções que levam ao fracasso.Você,contudo,nasceu para a felicidade.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Compreendendo os fundamentos da moral à Luz das Escrituras Sagradas.

A discussão sobre a moral, habitualmente confinada aos domínios filosóficos, adquiriu nas últimas décadas uma relevância social sem precedentes. Os temas morais tornaram-se objeto de conversas e incorporaram-se ao universo do homem comum, expressando a urgência de uma redefinição das relações sociais.

Defende-se com firmeza a liberdade de pensamento e ação, mas não nos damos conta de que a cultura dominante, impregnada pelo niilismo, por vezes nos impele a legitimar o poder, pois “se nada é verdadeiro, nem falso, bom ou mau, a regra será mostrar-se o mais eficaz, quer dizer, o mais forte”.
É no enfrentamento dos problemas cotidianos que constatamos a ausência de critérios, a dificuldade em emitir juízos de valor, a atitude de hesitação e incerteza que paralisam o homem, gerando apenas uma indignação estéril.
Desta forma, vivemos uma situação paradoxal: de um lado a exaltação do instinto - sobretudo a partir de 1968 - e, de outro, a exaltação da lei. “Passou-se da exaltação do instinto, como único critério de ação (para o qual tudo é lícito, tudo é permitido), para a exaltação da lei, do ‘ser adequados para’(...). Todos são impelidos a fazer o que bem lhes parece, mas, se erram, se ultrapassam os limites, o peso da lei cai sobre suas cabeças.”
Com efeito, é cada vez maior o número de leis, decretos e normas que procuram evitar o transbordamento da instintividade. Multiplicam-se os instrumentos que regulamentam o nível de instintividade socialmente aceitável.
Não é difícil constatar que o grande desafio deste final de século encontra-se, sem dúvida, no campo das questões morais, e que o grande problema de nosso tempo é o da Educação para a moral, para a realização do homem. É no campo das questões morais, que a cultura atual mostra sua face mais frágil. Atitudes que oscilam entre a total indiferença às questões morais, passando pelo relativismo, até a busca de normas que regulamentem com segurança os múltiplos aspectos da vida social, demonstram a confusão que se instaura quando entra em jogo o próprio homem, quando se questiona o sentido de seu agir.
A existência de uma “ordem científica”, completamente afastada de uma “ordem moral” exemplifica bem este fenômeno. As questões científicas, por vezes situam-se exclusivamente no nível das possilidades práticas, não levando em consideração a licitude dos atos.
Num contexto onde as certezas morais foram destruídas e a própria idéia de que há certezas em relação ao homem é considerada anacrônica e discutível, predomina uma visão tecnicista que relativiza os valores ou simplesmente prescinde deles.
A questão da legitimidade é para muitos algo já superado, incompatível com o grau de emancipação do homem atual, que não deve manter limitações de qualquer espécie, que possam comprometer o ideal de autonomia moderno. “Aquilo que é possível é legítimo fazer”. Esta é uma das máximas que se aplicam a todos os âmbitos da vida moderna.
Ao mesmo tempo, é cada vez maior a exigência de “moral” em todos os setores da vida pública, o que revela, por um lado, o esquecimento ou a inexistência de critérios morais que orientem o agir humano para além da reação imediata e por outro, expressam a necessidade urgente de um processo educativo que enfatize a reflexão sobre a natureza do homem e forneça critérios capazes de responder às suas necessidades pessoais e sociais.
Frente a este desafio, a leitura e análise do Novo Catecismo da Igreja Católica (doravante abreviado como CC) oferece-nos uma importante e atual contribuição, ao apresentar a doutrina da Igreja sobre a moral. Sendo um texto de alcance mundial e duradouro, oficial para os milhões de católicos de nosso país e do mundo e, mesmo para os não católicos, este documento expressa uma tomada de posição que - para além do âmbito especificamente religioso - recolhe a própria tradição de pensamento do Ocidente. Como pretendemos demonstrar, a própria Igreja reconhece que não há, em termos de conteúdo, uma moral especificamente católica: trata-se de uma proposta que pretende atingir a própria realização do ser humano enquanto tal.
Habitualmente, a moral católica é identificada com um código de normas anacrônicas, formuladas arbitrariamente e impostas pela Igreja aos seus membros. Em conseqüência disto, considera-se autoritária a atitude da Igreja que insistiria em impor regras consideradas ultrapassadas ou baseadas numa idealização do ser humano, que não encontrariam correspondência no mundo contemporâneo.
Na verdade, o que encontramos no CC é uma concepção de moral centrada na antropologia filosófica e voltada para a realização do próprio homem. O próprio título da parte dedicada ao tema moral - “Viver em Cristo” - já descarta a moral entendida como um manual de regras de conduta e aponta para uma profunda concepção de homem entendido em sua plenitude natural e aberto à participação da graça. É a afirmação do homem em sua totalidade e inserido em seu tempo. Passaremos então, a analisar a concepção de moral e os fundamentos sobre os quais ela se apóia, tal como nos é apresentada no CC.

Introdução à moral em Tomás de Aquino

Como já assinalamos anteriormente, a concepção de moral contida no CC está muito distante da idéia de proibições e regras impostas pela sociedade. Na perspectiva do CC é somente a partir do reconhecimento da natureza humana, do ser do homem, que o discurso moral encontra sua origem e sentido. Como diz o CC:

 Respeitar as leis inscritas na criação e as relações que derivam da natureza das coisas é princípio de sabedoria e fundamento da moral.
Para compreender a raiz desta concepção de moral será necessário realizar uma breve incursão no pensamento de Santo Tomás de Aquino. Uma primeira aproximação das idéias de Santo Tomás sobre a moral revela-nos que : “Ele nem sequer poderia conceber a moral como algo imposto, nem como 'assunto reservado a religiosos' e, menos ainda, como algo constrangedor ou repressivo da liberdade humana! O que, sim ele diz, é que a moral é o ser do homem,doutrina sobre o que o homem é e está chamado a ser. Sim, porque para Tomás a moral é entendida como um processo de auto-realização do homem; um processo levado a cabo livre e responsavelmente e que incide sobre o nível mais fundamental, o do ser-homem: 'Quando porém se trata da moral, a ação humana é vista como afetando, não um aspecto particular, mas a totalidade do ser do homem...; ela diz respeito ao que se é enquanto homem'".
Como pretendemos mostrar, toda a parte dedicada a moral no CC expressa a visão de que o homem é ontologicamente constituído pela exigência de realização plena, por perguntas inextirpáveis sobre o sentido último da vida, que referem-se portanto, não a aspectos particulares, mas à totalidade da existência. É o desejo de felicidade, de “realização (no singular) e não de realizações (plural) nos diversos aspectos setoriais da vida: financeiro, saúde, status, etc... (...)”presente em cada homem que dá sentido e ordena toda a vida moral. Santo Tomás compreende o homem como alguém em movimento, que procura continuamente a felicidade, a satisfação plena mas nunca consegue alcançá-la: “Na vida presente não pode haver felicidade completa. Este é o sentido do conceito de ‘status viatoris’. Existir como homem significa estar ‘no caminho’ desta realização”, movimentar-se na direção que corresponde à sua natureza .
Dotada de alma espiritual, inteligência e vontade, a pessoa humana, desde sua concepção, é ordenada para Deus e destinada à bem-aventurança eterna. Busca sua perfeição na “procura e no amor da verdade e do bem”.
Tal compreensão sobre a moral revela a existência de um nexo vital entre o bem moral e o destino do homem. Tratar da moral portanto, significa pôr em questão a plenitude de significado da vida. “Esta é efetivamente a aspiração que está no âmago de cada decisão e de cada ação humana, a inquietude secreta e o impulso íntimo que move a liberdade”.
De acordo com Tomás a moral deriva da natureza ou essência do ser humano e toda a criação, não tem origem em si mesma, mas é obra de toda a Santíssima Trindade: do poder Criador do Pai, através da inteligência do Verbo, que dá leis às criaturas. “Todo ente tem, portanto, uma essência, uma natureza, um modo de ser pensado, planejado por Deus; está organizado ou estruturado segundo um "projeto" divino. O homem (e cada coisa criada) é o que é, possui uma natureza humana, precisamente por ter sido criativamente criado pelo Verbo. Daí que haja uma verdade e um bem objetivos para o homem, porque seu ser não é caótico ou aleatório, mas procede de um design divino.” Para estabelecermos uma comparação, poderíamos dizer que assim como o manual de instruções de um complicado aparelho elétrico não é outra coisa que uma decorrência do design, do processo de criação e de fabricação daquela máquina, assim também a moral deve ser entendida não como um conjunto de imposições arbitrárias ou convencionais, mas pura e simplesmente como o reconhecimento da verdadeira natureza humana, tal como projetada por Deus. E da mesma forma que não ficamos revoltados contra o fabricante que nos indica: "Não ligarás em 220V", ou "Conservarás em lugar seco", mas lhe agradecemos essas informações, assim também devemos enxergar, digamos, os Dez Mandamentos não como imposições arbitrárias, mas como verdades elementares sobre o ser do homem”.
Por isto podemos constatar a existência de um lei moral natural, inerente a todo ser humano, que não resulta de um consenso ou imposição externa, mas da natureza especifica e original do homem. De acordo com Tomás a lei natural “não é mais do que a luz da inteligência infundida por Deus em nós. Graças a ela, conhecemos o que se deve cumprir e o que se deve evitar” Esta luz e esta lei, Deus a concedeu na criação” .
Isto significa que o homem possui em si mesmo uma lei, cujo caráter racional (universalmente compreensível e comunicável) permite que ela seja reconhecida por ele:

“O intelecto é naturalmente apto a entender tudo o que há na natureza das coisas".

Por isto, através de sua consciência o homem pode emitir um juízo sobre seus atos e agir em acordo ou desacordo com sua própria natureza, agredindo em primeiro lugar, a si mesmo. “Nesta perspectiva, toda norma moral deve ser entendida como um enunciado a respeito do ser do homem; e toda transgressão moral, o pecado, traz consigo uma agressão ao que o homem é. Os imperativos dos mandamentos (‘Farás x......’, ‘Não farás y...’) são no fundo, enunciados sobre a natureza humana: ‘O homem é um ser tal que sua felicidade, sua realização, requer x e é incompatível com y’”. De acordo com Tomás:

“Somos senhores de nossas ações no sentido de que podemos escolher isto ou aquilo. Não há escolha, porém, no que diz respeito ao fim, somente sobre ‘o que se ordena ao fim’(como se diz na Ética de Aristóteles). Daí que o querer o último fim não seja uma daquelas coisas de que somos senhores.
A própria definição de pecado apresentada pelo CC expressa com clareza esta visão:

"O pecado é um ato contrário à razão. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana".

Concluindo com o pensamento de Santo Tomás: "O moral pressupõe o natural”

Criação

Para examinarmos o conceito central de criação no CC/Tomás, é necessário compreender a dimensão que este conceito adquire em Tomás. Seu ponto de partida é a constatação de que toda a realidade não tem origem em si mesma, não se produz a si mesma, mas é “criação: productio rerum in esse, produção das coisas no ser”.Neste sentido, o homem mostra-se limitado: ele é capaz de conferir novas formas às coisas existentes, ordená-las e transformá-las de acordo com suas necessidades. Sua criatividade permite-lhe arriscar, estabelecer novas conexões e descobrir novas possibilidades naquilo que lhe é dado. Sua atuação portanto, dá-se sobre algo que já existe, que lhe é dado, pois o homem, assim como todas as criaturas não é capaz de conferir o ser às coisas. Como afirma o CC/Tomás:

 Nenhuma criatura tem o poder infinito que é necessário para “criar” no sentido próprio da palavra, isto é, produzir e dar o ser àquilo que não o tinha de modo algum (chamar à existência “ex-nihilo”).
Esta constatação remete à existência de um Outro que faz com que tudo exista: “assim, o ser que está presente nas coisas criadas, pode somente remontar-se ao ser divino”.
“No princípio, Deus criou o céu e a terra”(Gn 1,1). Três coisas são afirmadas nestas primeiras palavras da Escritura: o Deus eterno pôs um começo a tudo o que existe fora dele. Só ele é Criador ( o verbo “criar”- em hebraico “bara”- sempre tem como sujeito a Deus). Tudo o que existe ( expresso pela fórmula “o céu e a terra”) depende daquele que dá o ser.
“Deus é o ente cuja natureza é ser, não ser isto ou aquilo, mas ser sem mais, puro ato de ser”. É “Ipsum esse subsistens, o próprio ser subsistente, a realidade propriamente dita”.
“ Em Deus não há essência que não o seu próprio ser. Deus é o que é.” Portanto, “sendo Deus o próprio ser por essência, necessariamente o ser de cada coisa criada é um feito próprio d’Ele, como queimar é próprio do fogo (...) E por isso Deus necessariamente está presente nas coisas do modo mais profundo e íntimo”.
O CC/Tomás sublinha a presença do Criador no ente criado: uma presença que não se encontra apenas na origem de todas as criaturas, mas sustenta-as permitindo sua existência a cada momento.
Deus é infinitamente maior que todas as suas obras. “Sua majestade é mais alta do que os céus”(Sl 8,2),”é incalculável a sua grandeza”(Sl 145,3). Mas por ser o Criador soberano e livre, causa primeira de tudo o que existe, ele está presente no mais íntimo das suas criaturas: “Nele vivemos, nos movemos e existimos”(At 17,28). Segundo as palavras de Sto. Agostinho, ele “superior summo meo et intereor intimo meo - maior do que o que há de maior em mim e mais íntimo do que há de mais íntimo em mim”.
Todas as criaturas portanto, são um reflexo de Deus, trazem em si algo que as transcende e de algum modo espelham a Deus. “Todas as coisas, na medida em que são assemelham-se a Deus, que é o ser primeiro e principal”.Esta é a fonte da dignidade do homem: criatura que carrega em si a imagem de Deus.
# 355. “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou”(Gn 1, 27). O homem ocupa um lugar único na criação: ele é “à imagem de Deus; na sua própria natureza une o mundo espiritual e material; é criado “homem e mulher”; Deus o estabeleceu na sua amizade.
 De todas as criaturas visíveis, só o homem é “capaz de conhecer e amar o seu Criador”, ele é “a única criatura que Deus quis em si mesma”, só ele é chamado a compartilhar, pelo conhecimento e o amor, a vida de Deus. Foi para este fim que o homem foi criado, e aí reside a razão fundamental da sua dignidade: "Que motivo vos fez constituir o homem em dignidade tão grande? O amor inestimável pelo qual enxergastes em vós mesmo a vossa criatura, e vos apaixonastes por ela; pois foi por amor que a criastes, foi por amor que lhes destes um ser capaz de degustar o vosso Bem eterno".
A dignidade da pessoa humana se fundamenta em sua criação à imagem e semelhança de Deus.
Esta afirmação é repetida exaustivamente no CC/Tomás, para ressaltar a singularidade do homem entre todas as criaturas da natureza - criado à imagem de Deus (dotado de razão, alma, liberdade e chamado à realização) - e as conseqüências desta concepção no plano pessoal e nos relacionamentos com os outros homens. Qualquer forma de discriminação nos direitos fundamentais da pessoa, seja ela social ou cultural, ou que se fundamente no sexo, raça, cor, condição social, língua ou religião deve ser superada e eliminada, porque contrária ao plano de Deus.
A compreensão do conceito de “criação” completa-se com a constatação de que o “naturalismo” presente em Tomás (CC/Tomás) apoia-se num fundamento sobrenatural. Trata-se de ressaltar que a Criação não é obra de Deus Pai, mas de toda a Trindade. A Criação é o ato inteligente de Deus, é obra do Verbo, compreendido como Logos, como princípio da Criação, que confere inteligibilidade à todas as criaturas e à toda realidade. Assim se expressa o CC/Tomás:

 “No princípio era o Verbo... e o Verbo era Deus... Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito”(Jo 1,1-3). O Novo Testamento revela que Deus criou tudo através do Verbo Eterno, seu Filho bem-amado. Foi nele “que foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra... tudo foi criado por Ele e para Ele. Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste”(Cl 1,16-17). A fé da Igreja afirma outrossim a ação criadora do Espírito Santo. Ele é o “doador de vida”. “o Espírito Criador”(Veni, Creator Spiritus”), a “Fonte de todo bem”.
Em latim, “verbum significa não só palavra, a palavra exterior vocalmente proferida, mas também o verbum interius (verbum mentis ou verbum cordis), a ‘palavra’ interior, o conceito, a idéia que corresponde à palavra exterior. Verbum significa ainda o Filho, a segunda Pessoa da Ssma. Trindade ( Jesus Cristo)”. Como afirma Tomás: “Assim como a palavra audível manifesta a palavra interior, assim também a criatura manifesta a concepção divina (...); as criaturas são como palavras que manifestam o Verbo de Deus” pois elas encerram em si mesmas um projeto divino.
 Já que Deus cria com sabedoria, a criação é ordenada: “Tu dispuseste tudo com medida, número e peso”(Sb 11,20). Feita no e através do Verbo eterno, “imagem do Deus invisível”(Cl 1,15), a criação está destinada, dirigida ao homem, imagem de Deus, chamado a uma relação pessoal com Deus. Nossa inteligência, que participa da luz do Intelecto divino, pode entender o que Deus nos diz pela sua criação, sem dúvida não sem grande esforço e num espírito de humildade e de respeito diante do Criador e da sua obra. Originada da bondade divina, a criação participa desta bondade(...)” (Gn 1,4.10.12.18.21.31).
Pela criação, portanto, Deus dá o ser às criaturas, mas não de qualquer maneira. Por ser obra do Pensamento criador de Deus - obra do Verbo - o ser das criaturas não é caótico, mas estruturado, planejado, ordenado em função de uma finalidade.

Natureza/Razão

Inicialmente, frisemos uma tese fundamental: o conteúdo da moral é essencialmente natural. Neste sentido não existe uma “moral católica” e quando a Igreja intervém veementemente em questões morais ela o faz não em nome de outra coisa que não seja a verdade a respeito do homem.
O que então, o CC/Tomás e Santo Tomás entendem por natureza humana? Que relação estabelecem entre natureza e moral?
Retomando o pensamento de Santo Tomás podemos constatar que a palavra "natureza" é comumente utilizada como sinônimo de essência, ou mais precisamente para ressaltar o aspecto da essência como princípio de operações (falar, pensar, andar, florescer, frutificar, latir, cantar, etc.).
Aqui faz-se necessária uma retomada do binômio ato de ser/ essência, base da metafísica de Tomás: todo o ente é, e é algo. Ele é (exerce o ato de ser) de um modo determinado (essência): é um ser humano ou um animal por exemplo. A essência é o modo, é a medida da recepção do ato de ser. Não se justapõe ao ser, mas “está unida ao ente real e concreto: como definição, delimitação determinação, isto é estabelecendo os limites, o fim, o término da recepção do ato de ser por este ente concreto.” Todo ente “tem uma essência (é pedra, árvore, cão ou homem) por receber o actus essendi em tal e tal forma, em tal medida”.
Quando falamos da natureza humana portanto, falamos daquilo que constitui o homem enquanto tal, de algo que existe em razão da criação.De acordo com Tomás: “Natureza” procede de nascer. É portanto, o ser que o homem recebe pelo nascimento que o torna capaz de agir especificamente como um homem e não como um animal. O que é então, próprio da natureza humana? Em suas sentenças, Tomás afirma:

“O primeiro princípio de todas as ações humanas é a razão e quaisquer outros princípios que se encontrem para as ações humanas obedecem, de algum modo, à razão".

“A razão é a natureza do homem. Daí que tudo o que é contra a razão é contra a natureza do homem".

A razão portanto, é a estrutura interna do homem e a capacidade intelectual de compreensão da natureza de todas as coisas. Lembremos que “razão, não deve aqui ser entendida como a razão do "racionalismo", nem sequer somente como a faculdade racional humana. Dentre os múltiplos significados da palavra latina ratio (que acompanha alguns dos diversos sentidos do vocábulo grego logos), interessam-nos principalmente dois: um que aponta para algo intrínseco à realidade das coisas; e, outro, para um peculiar relacionamento com a realidade”.
Aqui é necessário ressaltar, como nos explica Lauand, que cada coisa real “sendo criada pelo Verbo, tem uma ratio, uma natureza, um conteúdo, um significado, ‘um quê’, uma verdade que, por um lado, faz com que a coisa seja aquilo que é e, por outro, a torna cognoscitível para a inteligência humana. Um conhecimento que será tanto mais adequado quanto maior for a objetividade com que se abrir à realidade contida no objeto.(...) É precisamente essa ratio que, por um lado, estrutura por dentro qualquer ente que, por outro, permite, como dizíamos, o acesso intelectual humano a esse ente .
Assim como toda a realidade é fruto da Criação através do Verbo, o ser humano também procede da Inteligência criadora de Deus e por isto, tem incorporado em si uma racionalidade que o estrutura internamente, que o constitui e lhe confere inteligibilidade. Através da razão o homem pode conhecer, entrar em contato com a racionalidade inerente à toda realidade. Por isto pode-se afirmar a existência de uma “ordem” , que corresponde à estruturação racional (projeto divino) existente em todas os seres em virtude da Criação:

Respeitar as leis inscritas na criação e as relações que derivam da natureza das coisas é princípio de sabedoria e fundamento da moral.
A moralidade, portanto, deriva da própria natureza humana. A lei moral não é um conjunto de exigências exteriores ao homem, mas expressão de sua natureza, tal como ela foi constituída em virtude da criação e torna-se conhecida através da razão.
O CC/Tomás assinala a existência da lei moral natural, por vezes chamada de ”lei natural e divina” para ressaltar sua origem: a verdade que orienta o agir, encontra-se no ser do homem, em sua natureza que deriva do Criador . É esta a verdade que o instrui.
A lei “divina e natural” mostra ao homem o caminho a seguir para praticar o bem e atingir seu fim. A lei natural enuncia os preceitos primeiros e essenciais que regem a vida moral. Tem como esteio a aspiração e a submissão a Deus, fonte e juiz de todo bem, assim como sentir o outro como igual a si mesmo. Está exposta, em seus principais preceitos, no Decálogo. Essa lei é denominada natural, não em referência à natureza dos seres irracionais, mas porque a razão que a promulga pertence com algo próprio à natureza humana(...).
A lei natural outra coisa não é senão a luz da inteligência posta em nós por Deus. Por ela, conhecemos o que se deve fazer e o que se deve evitar. Esta luz ou esta lei, deu-a Deus à criação.”
Ter uma razão é a natureza do homem, por isto a lei natural impõe-se a todo ser dotado de razão, ainda que este se encontre em circunstâncias culturais e épocas distintas. Por isto o CC/Tomás ressalta que a lei natural é universal, imutável e não diz respeito apenas à conduta moral de cada homem em particular, mas de toda a sociedade. A própria concepção de autoridade, seu exercício legítimo e a busca do bem comum, encontram seu fundamento na lei natural:
 A legislação humana não goza do caráter de lei senão na medida em que se conforma à justa razão; donde se vê que ela recebe o seu vigor da lei eterna. Na medida em que ela se afastasse da razão, seria necessário declará-la injusta, pois não realizaria a noção de lei; seria antes uma forma de violência.
Na condição de criatura, que traz em si algo do Criador, o homem busca sua realização. A busca da felicidade, nada mais é do que a expressão natural da ordenação do homem ao seu fim último, à sua plenitude. Como afirma Santo Tomás: “O homem quer a felicidade por natureza e por necessidade”. “A criatura espiritual deseja naturalmente ser feliz; por isso, ela não pode não querer ser feliz’. “Querer ser feliz não é objeto de decisão livre” pois “O desejo do último fim não está entre os objetos dos quais somos senhores”.
A afirmação de que “ O homem aspira, por natureza à felicidade”, ressalta a conexão profunda entre natureza e felicidade. Como nos explica Pieper: “Se, faz parte da definição do espírito criado (criatura) que ele recebeu seu ser e o complemento imediato de sua vida de outrem, ab alio, isto é, do ato da criação que produz o seu ser, então, necessariamente, está incluído que em meio ao espírito criado algo sucede que é ato dele próprio, e, portanto, espiritual, mas ao mesmo tempo sucede “por causa da criação”, um fato natural. É este precisamente o caso do desejo da felicidade; é um “querer natural”, isto é, ao mesmo tempo ato espiritual e ato natural.Nas palavras do CC/Tomás:

 A pessoa humana participa da luz e da força do Espírito divino. Pela razão é capaz de compreender a ordem das coisas estabelecida pelo Criador. Por sua vontade, ela é capaz de ir ao encontro de seu verdadeiro bem. Encontra sua perfeição na “busca e no amor da verdade e do bem”.
Como ensina Pieper: “Todo desejo de felicidade do homem, por menores que sejam as satisfações em que se possa perder, se orienta infalivelmente para uma satisfação suprema que é o que na realidade ele procura”. Da mesma forma, o CC/ Tomás afirma que o desejo de felicidade que só encontra correspondência nas bem-aventuranças, está na raiz de todos os atos humanos, é a expressão mais genuína da natureza humana, pois indica sua origem e aponta para seu destino.
As bem-aventuranças respondem ao desejo natural de felicidade. Este desejo é de origem divina: Deus o colocou no coração do homem a fim de atraí-lo para si, pois só ele pode satisfazê-lo. Todos certamente queremos viver felizes e não existe no gênero humano pessoa que não concorde com esta proposição mesmo antes de ser formulada por inteiro. Então, como vos hei de procurar, Senhor? Quando vos procuro, meu Deus, busco a vida eterna.
Por seus atos deliberados, o ser humano pode orientar sua vida na direção das bem-aventuranças ( felicidade, fim último). Através de sua consciência o homem reconhece os preceitos da lei natural, que o conduzem à plenitude e usando de sua liberdade pode aceitá-los ou rejeitá-los:
Presente no coração da pessoa, a consciência moral lhe impõe, no momento oportuno, fazer o bem e evitar o mal. Julga, portanto, as escolhas concretas, aprovando as boas e denunciando as más. Atesta a autoridade da verdade referente ao Bem supremo, de quem a pessoa humana sente a atração e acolhe os mandamentos. Quando escuta a consciência moral, o homem pode ouvir Deus, que fala.
Quanto mais prevalecer a consciência reta, tanto mais as pessoas e os grupos se afastam de um arbítrio e se esforçam por conformar-se às normas objetivas da moralidade.
É na ação do homem que se concretiza a relação entre a liberdade e o bem supremo, pois é através de seus atos que o homem se aperfeiçoa como homem, “como homem chamado a procurar espontaneamente o seu Criador e a chegar livremente pela adesão à ele, à perfeição total e beatífica” . Desta forma, “o agir é moralmente bom quando exprime a ordenação voluntária da pessoa para o fim último e a conformidade da ação concreta com o bem humano, tal como é reconhecido na sua verdade pela razão”. Quando a ação do homem não está em sintonia com o seu verdadeiro bem, podemos afirmar que esta ação é moralmente má, pois o afasta de seu fim último, de sua plenitude, isto é do próprio Deus.
A liberdade faz do homem um sujeito moral. Quando age de forma deliberada, o homem é, por assim dizer, pai de seus atos. Os atos humanos, isto é livremente escolhidos após um juízo da consciência, são qualificáveis moralmente. São bons ou maus.
Existem comportamentos concretos cuja escolha é sempre errônea, porque escolhê-los significa uma desordem da vontade, isto é, um mal moral. Não é permitido fazer o mal para que dele resulte um bem.

Daí segue-se a definição de pecado:

O pecado é uma falta grave contra a razão, a verdade , a consciência reta: é uma falta ao amor verdadeiro, para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana. Foi definido como “uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna”.
É portanto na natureza do homem que vamos encontrar as razões e o sentido do agir humano. Utilizando as palavras de E. Gilson: “O fundamento da moral é a própria natureza humana. O bem moral é todo o objeto, toda operação que permite ao homem realizar as capacidades de sua natureza e atualizar-se segundo a norma de sua essência, que é a de um ser dotado de razão”.

Graça e Participação

A partir dos conceitos de graça e participação saímos da esfera da moral exclusivamente natural, aceitando-a integralmente, mas acrescentando algo que transcende a natureza: o sobrenatural.
Graça e participação não prescindem da natureza, nem das leis que a constituem e a ordenam, mas indicam realidades que estão além da natureza e que atuando no homem, conferem-lhe um significado diferente: toda a realidade humana na unidade alma e corpo não é essencialmente alterada, mas assumida num outro plano.
O que possibilita ao homem entrar na órbita de uma vida sobre-humana? Como compreender a presença do divino no humano, caraterística da ordem sobrenatural? Comecemos por examinar o conceito de participação.
A palavra participação admite vários significados, mas aquele que nos interessa “é expresso pela palavra metékhein: “ter com”, um “com ter”; ou simplesmente “ter” em oposição a “ser”; um “ter” pela união (participação) com outro que “é”.
Quando nos detemos exclusivamente no plano natural, podemos afirmar que todas as criaturas participam do ser de Deus, recebem de Deus (ato puro de ser) o ser que as constitui. Por isto toda criatura é sempre um reflexo, uma imagem do Criador: “Todas as coisas, na medida em que são, reproduzem de algum modo a essência divina; mas não a reproduzem todas da mesma maneira, mas de modos diferentes e em diversos graus.”
Quando porém passamos ao plano sobrenatural, o conceito de participação adquire outro significado: não mais a participação no ser, mas em Deus enquanto tal, na própria vida divina.
Este é o significado mais pertinente da graça: participação da vida íntima de Deus. É nesse sentido que falam Heb 3,14: "Somos participantes de Cristo" e 2Pd. 1,4: "Participamos da natureza divina".
Santo Tomás descreve de diferentes formas esse participar de Deus: “A graça é uma certa semelhança com Deus de que o homem participa”; “O primeiro efeito da graça é conferir um ser de alguma forma divino”; “Pela graça santificante, toda a Trindade passa a habitar na alma”. Estas formulações são assumidas na íntegra pelo CC/Tomás da seguinte forma:

A graça é uma participação na vida divina; introduz-nos na intimidade da vida trinitária.

É algo totalmente sobrenatural, na medida em que:

 Depende integralmente da iniciativa gratuita de Deus, pois apenas ele pode se revelar e dar-se a si mesmo. Ultrapassa as capacidades da inteligência e as forças da vontade do homem, como também de qualquer criatura.
Desta forma, graça designa “antes de tudo uma relação, um encontro, uma ruptura de compartimentos estanques, nos quais o divino e o humano permaneceriam incomunicáveis, uma subversão da pirâmide ontológica , tal e qual a pensaram os gregos, segundo a qual o homem está abaixo e Deus está acima. Graça significa que Deus se abaixou, condescendeu com o homem; que o homem transcendeu até Deus; que, por conseguinte, a fronteira entre o divino e o humano não é impenetrável, mas se tornou permeável. E que, enfim, tudo isto acontece gratuitamente: Deus não tem nenhuma obrigação de tratar assim o homem; o homem não tem nenhum direito a ser tratado assim por Deus”.
A graça (participação na vida divina) confere ao homem uma filiação divina, que não deve ser confundida com a que ele e as demais criaturas obtém ao participarem do ser pela Criação.
Trata-se de uma filiação totalmente nova: o cristão participa de Cristo, que é Filho de Deus e adquire uma filiação divina. Como “filho adotivo” (a filiação natural pertence somente a Cristo) o cristão pode até mesmo dirigir-se a Deus como Pai, como nos explica o CC/Tomás:
 A graça é o favor, o socorro gratuito que Deus nos dá para responder a seu convite: tornar-nos filhos de Deus, filhos adotivos, participantes da natureza divina, da Vida Eterna.
Através do batismo, o homem pode participar da natureza divina, ocorrendo assim, um verdadeiro “renascimento”.A ação da presença infinita de Deus no homem produz, não um “quid superadditum”, mas um novo modo de ser, uma nova conformação ontológica que se expressa através de atos.
 Se alguém está em Cristo, é nova criatura. passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova. Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por Cristo (2Cor. 5,17-18).
Neste ponto vale lembrar uma das principais sentenças de Santo Tomás: “A graça não suprime a natureza, aperfeiçoa-a”.
A graça, portanto não prescinde nem diminui a natureza humana, mas situa-a no interior de uma realidade sobrenatural. O próprio Tomás reconhece que o homem, por natureza, busca o infinito, é capax infiniti (capaz do infinito) e ao mesmo tempo, é incapaz de atingí-lo por seus próprios meios.
Como sintetiza O.H. Pesch: “graça é o chegar do amor eterno de Deus à alma, ou, dizendo modernamente, ao eu íntimo do homem. Deus dá ao homem, nesse amor, não algo, (...) dá-se a si mesmo. E essa auto doação divina opera no homem a capacidade e a propensão (inalcançáveis de outro modo) para corresponder ao amor de Deus com uma entrega análoga, ou seja, espontânea e gozosa. O saldo resultante é amizade em recíproca comunicação, que compromete todo o agir humano, condensando-o num único movimento fundamental para Deus”.
Ao realizar esta breve síntese, o autor já indica de modo inequívoco a relação entre a graça e conteúdo da moral.
Ainda que o conteúdo moral encontre-se no interior do próprio homem, ainda que as leis morais existentes na natureza possam ser reconhecidas por cada homem indicando o caminho para sua plenitude, do ponto de vista cristão, isto só pode ocorrer com a ajuda da graça. Comentando a importância da lei antiga (Decálogo), cujo conteúdo exprime verdades naturalmente acessíveis à razão, o CC/ Tomás objeta que:
 Como um pedagogo, ela (a lei) mostra o que se deve fazer, mas não dá por si mesma a força, a graça para cumpri-la. Por causa do pecado que não pode tirar, é ainda uma lei de servidão.
Dito de outra forma: “a graça é condição para o agir humano”,  pois a coerência com os preceitos morais não é fruto de um esforço puramente humano (quase sempre triste e desesperado), mas da graça.
Não se trata, pois do frio cumprimento de uma "lei", mas de uma questão de amor, da consciência de ser uma nova criatura, portadora da vida divina. É o que diz o Apóstolo: "Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? E haverei de tomar eu os membros de Cristo para torná-los membros de uma prostituta? De modo algum!" (I Cor 6:15).
Se, como dizíamos, não há uma "moral católica" no que diz respeito a conteúdos, ela existe quanto ao aspecto formal, quanto à motivação, à vivência da Moral pelo cristão que se sabe participante da divindade de Cristo. 
 “Cristão, reconhece a tua dignidade. Por participares agora da natureza divina, não te degeneres retornando à decadência de tua vida passada. Lembra-te da Cabeça a que pertences e do Corpo de que és membro. Lembra-te de que foste arrancado do poder das trevas e transferido para a luz e o Reino de Deus.
De acordo com o CC/Tomás a moral - para além de regras, normas, convenções ou imposições sociais - diz respeito ao próprio ser do homem: à sua auto-realização.
Este é precisamente o sentido do conceito de criação, “fundamento da moral” (# 354). O conceito de criação, participação no ser de Deus, confere ao homem uma natureza dinâmica, que pelo seu agir livre e responsável pode caminhar em direção àquela realização prevista pelo Verbum, o pensamento criador divino.
Assim se compreende também o conceito de razão, entendida como a presença de um logos no homem: “existe, sem dúvida, uma verdadeira lei: é a reta razão” (1956).”
O plano sobrenatural não acrescenta nada de substantivo ao conteúdo da moral, mas dá ao cristão uma perspectiva nova quanto à motivação e a dignidade de seus atos. "Agnosce christiane dignitatem tuam” repete o CC/ Tomás para lembrar ao cristão a essencial doutrina da graça, que, por participação, o faz filho de Deus em Cristo, “viver em Cristo”.
Assim, o cristão que é ele mesmo “outro Cristo”(Gl 2, 20) e vê nos outros homens “outros Cristos” transcende a moral “da lei” e passa a viver a moral do amor.
Desta forma, a educação para a moral pressupõe o conhecimento sobre aquilo que a fundamenta: o próprio ser do homem, a natureza humana, que participa do ser divino em virtude da criação. A grande tarefa dos educadores hoje é portanto, ajudar o homem a tomar consciência de si mesmo, reconhecendo aquilo que o constitui e o qualifica como tal.
Jesus ressaltou a importtância do coração,que deve ser puro,para que dele não saiam ações más:"O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem.Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem.

Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.
São estas coisas que contaminam o homem"(Mt 15,11.18-20a).


Diferença entre Ética e Moral


A confusão entre as palavras Moral e Ética existe há muitos séculos. A própria etimologia destes termos gera confusão. Ética vem do grego Ethos que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de (mores), significando costumes. Esta confusão pode ser resolvida com o esclarecimento dos dois temas. Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. Durkheim explicava Moral como a Ciência dos costumes, sendo algo anterior a própria sociedade. A Moral tem caráter obrigatório.
Já a palavra Ética,define como um conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se comportar no seu meio social.
Lembre-se que ser ético é ser responsável por suas atitudes, sempre voltados para os valores morais. Ser ético é agir direito, proceder bem, sem prejudicar os outros. É ser honesto em qualquer situação, é ter coragem para assumir seus erros e decisões, ser tolerante e flexível, é ser humilde.Sei que é muito difícil ser ético em nossos dias. Há muitas situações que nos fazem recuar. Outras nos fazem calar pra não sofrer represálias se tenta inibir ou afrontar colegas e indivíduos que não tem nenhum senso de moral ou ética em suas vidas.