segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Compreendendo os fundamentos da moral à Luz das Escrituras Sagradas.

A discussão sobre a moral, habitualmente confinada aos domínios filosóficos, adquiriu nas últimas décadas uma relevância social sem precedentes. Os temas morais tornaram-se objeto de conversas e incorporaram-se ao universo do homem comum, expressando a urgência de uma redefinição das relações sociais.

Defende-se com firmeza a liberdade de pensamento e ação, mas não nos damos conta de que a cultura dominante, impregnada pelo niilismo, por vezes nos impele a legitimar o poder, pois “se nada é verdadeiro, nem falso, bom ou mau, a regra será mostrar-se o mais eficaz, quer dizer, o mais forte”.
É no enfrentamento dos problemas cotidianos que constatamos a ausência de critérios, a dificuldade em emitir juízos de valor, a atitude de hesitação e incerteza que paralisam o homem, gerando apenas uma indignação estéril.
Desta forma, vivemos uma situação paradoxal: de um lado a exaltação do instinto - sobretudo a partir de 1968 - e, de outro, a exaltação da lei. “Passou-se da exaltação do instinto, como único critério de ação (para o qual tudo é lícito, tudo é permitido), para a exaltação da lei, do ‘ser adequados para’(...). Todos são impelidos a fazer o que bem lhes parece, mas, se erram, se ultrapassam os limites, o peso da lei cai sobre suas cabeças.”
Com efeito, é cada vez maior o número de leis, decretos e normas que procuram evitar o transbordamento da instintividade. Multiplicam-se os instrumentos que regulamentam o nível de instintividade socialmente aceitável.
Não é difícil constatar que o grande desafio deste final de século encontra-se, sem dúvida, no campo das questões morais, e que o grande problema de nosso tempo é o da Educação para a moral, para a realização do homem. É no campo das questões morais, que a cultura atual mostra sua face mais frágil. Atitudes que oscilam entre a total indiferença às questões morais, passando pelo relativismo, até a busca de normas que regulamentem com segurança os múltiplos aspectos da vida social, demonstram a confusão que se instaura quando entra em jogo o próprio homem, quando se questiona o sentido de seu agir.
A existência de uma “ordem científica”, completamente afastada de uma “ordem moral” exemplifica bem este fenômeno. As questões científicas, por vezes situam-se exclusivamente no nível das possilidades práticas, não levando em consideração a licitude dos atos.
Num contexto onde as certezas morais foram destruídas e a própria idéia de que há certezas em relação ao homem é considerada anacrônica e discutível, predomina uma visão tecnicista que relativiza os valores ou simplesmente prescinde deles.
A questão da legitimidade é para muitos algo já superado, incompatível com o grau de emancipação do homem atual, que não deve manter limitações de qualquer espécie, que possam comprometer o ideal de autonomia moderno. “Aquilo que é possível é legítimo fazer”. Esta é uma das máximas que se aplicam a todos os âmbitos da vida moderna.
Ao mesmo tempo, é cada vez maior a exigência de “moral” em todos os setores da vida pública, o que revela, por um lado, o esquecimento ou a inexistência de critérios morais que orientem o agir humano para além da reação imediata e por outro, expressam a necessidade urgente de um processo educativo que enfatize a reflexão sobre a natureza do homem e forneça critérios capazes de responder às suas necessidades pessoais e sociais.
Frente a este desafio, a leitura e análise do Novo Catecismo da Igreja Católica (doravante abreviado como CC) oferece-nos uma importante e atual contribuição, ao apresentar a doutrina da Igreja sobre a moral. Sendo um texto de alcance mundial e duradouro, oficial para os milhões de católicos de nosso país e do mundo e, mesmo para os não católicos, este documento expressa uma tomada de posição que - para além do âmbito especificamente religioso - recolhe a própria tradição de pensamento do Ocidente. Como pretendemos demonstrar, a própria Igreja reconhece que não há, em termos de conteúdo, uma moral especificamente católica: trata-se de uma proposta que pretende atingir a própria realização do ser humano enquanto tal.
Habitualmente, a moral católica é identificada com um código de normas anacrônicas, formuladas arbitrariamente e impostas pela Igreja aos seus membros. Em conseqüência disto, considera-se autoritária a atitude da Igreja que insistiria em impor regras consideradas ultrapassadas ou baseadas numa idealização do ser humano, que não encontrariam correspondência no mundo contemporâneo.
Na verdade, o que encontramos no CC é uma concepção de moral centrada na antropologia filosófica e voltada para a realização do próprio homem. O próprio título da parte dedicada ao tema moral - “Viver em Cristo” - já descarta a moral entendida como um manual de regras de conduta e aponta para uma profunda concepção de homem entendido em sua plenitude natural e aberto à participação da graça. É a afirmação do homem em sua totalidade e inserido em seu tempo. Passaremos então, a analisar a concepção de moral e os fundamentos sobre os quais ela se apóia, tal como nos é apresentada no CC.

Introdução à moral em Tomás de Aquino

Como já assinalamos anteriormente, a concepção de moral contida no CC está muito distante da idéia de proibições e regras impostas pela sociedade. Na perspectiva do CC é somente a partir do reconhecimento da natureza humana, do ser do homem, que o discurso moral encontra sua origem e sentido. Como diz o CC:

 Respeitar as leis inscritas na criação e as relações que derivam da natureza das coisas é princípio de sabedoria e fundamento da moral.
Para compreender a raiz desta concepção de moral será necessário realizar uma breve incursão no pensamento de Santo Tomás de Aquino. Uma primeira aproximação das idéias de Santo Tomás sobre a moral revela-nos que : “Ele nem sequer poderia conceber a moral como algo imposto, nem como 'assunto reservado a religiosos' e, menos ainda, como algo constrangedor ou repressivo da liberdade humana! O que, sim ele diz, é que a moral é o ser do homem,doutrina sobre o que o homem é e está chamado a ser. Sim, porque para Tomás a moral é entendida como um processo de auto-realização do homem; um processo levado a cabo livre e responsavelmente e que incide sobre o nível mais fundamental, o do ser-homem: 'Quando porém se trata da moral, a ação humana é vista como afetando, não um aspecto particular, mas a totalidade do ser do homem...; ela diz respeito ao que se é enquanto homem'".
Como pretendemos mostrar, toda a parte dedicada a moral no CC expressa a visão de que o homem é ontologicamente constituído pela exigência de realização plena, por perguntas inextirpáveis sobre o sentido último da vida, que referem-se portanto, não a aspectos particulares, mas à totalidade da existência. É o desejo de felicidade, de “realização (no singular) e não de realizações (plural) nos diversos aspectos setoriais da vida: financeiro, saúde, status, etc... (...)”presente em cada homem que dá sentido e ordena toda a vida moral. Santo Tomás compreende o homem como alguém em movimento, que procura continuamente a felicidade, a satisfação plena mas nunca consegue alcançá-la: “Na vida presente não pode haver felicidade completa. Este é o sentido do conceito de ‘status viatoris’. Existir como homem significa estar ‘no caminho’ desta realização”, movimentar-se na direção que corresponde à sua natureza .
Dotada de alma espiritual, inteligência e vontade, a pessoa humana, desde sua concepção, é ordenada para Deus e destinada à bem-aventurança eterna. Busca sua perfeição na “procura e no amor da verdade e do bem”.
Tal compreensão sobre a moral revela a existência de um nexo vital entre o bem moral e o destino do homem. Tratar da moral portanto, significa pôr em questão a plenitude de significado da vida. “Esta é efetivamente a aspiração que está no âmago de cada decisão e de cada ação humana, a inquietude secreta e o impulso íntimo que move a liberdade”.
De acordo com Tomás a moral deriva da natureza ou essência do ser humano e toda a criação, não tem origem em si mesma, mas é obra de toda a Santíssima Trindade: do poder Criador do Pai, através da inteligência do Verbo, que dá leis às criaturas. “Todo ente tem, portanto, uma essência, uma natureza, um modo de ser pensado, planejado por Deus; está organizado ou estruturado segundo um "projeto" divino. O homem (e cada coisa criada) é o que é, possui uma natureza humana, precisamente por ter sido criativamente criado pelo Verbo. Daí que haja uma verdade e um bem objetivos para o homem, porque seu ser não é caótico ou aleatório, mas procede de um design divino.” Para estabelecermos uma comparação, poderíamos dizer que assim como o manual de instruções de um complicado aparelho elétrico não é outra coisa que uma decorrência do design, do processo de criação e de fabricação daquela máquina, assim também a moral deve ser entendida não como um conjunto de imposições arbitrárias ou convencionais, mas pura e simplesmente como o reconhecimento da verdadeira natureza humana, tal como projetada por Deus. E da mesma forma que não ficamos revoltados contra o fabricante que nos indica: "Não ligarás em 220V", ou "Conservarás em lugar seco", mas lhe agradecemos essas informações, assim também devemos enxergar, digamos, os Dez Mandamentos não como imposições arbitrárias, mas como verdades elementares sobre o ser do homem”.
Por isto podemos constatar a existência de um lei moral natural, inerente a todo ser humano, que não resulta de um consenso ou imposição externa, mas da natureza especifica e original do homem. De acordo com Tomás a lei natural “não é mais do que a luz da inteligência infundida por Deus em nós. Graças a ela, conhecemos o que se deve cumprir e o que se deve evitar” Esta luz e esta lei, Deus a concedeu na criação” .
Isto significa que o homem possui em si mesmo uma lei, cujo caráter racional (universalmente compreensível e comunicável) permite que ela seja reconhecida por ele:

“O intelecto é naturalmente apto a entender tudo o que há na natureza das coisas".

Por isto, através de sua consciência o homem pode emitir um juízo sobre seus atos e agir em acordo ou desacordo com sua própria natureza, agredindo em primeiro lugar, a si mesmo. “Nesta perspectiva, toda norma moral deve ser entendida como um enunciado a respeito do ser do homem; e toda transgressão moral, o pecado, traz consigo uma agressão ao que o homem é. Os imperativos dos mandamentos (‘Farás x......’, ‘Não farás y...’) são no fundo, enunciados sobre a natureza humana: ‘O homem é um ser tal que sua felicidade, sua realização, requer x e é incompatível com y’”. De acordo com Tomás:

“Somos senhores de nossas ações no sentido de que podemos escolher isto ou aquilo. Não há escolha, porém, no que diz respeito ao fim, somente sobre ‘o que se ordena ao fim’(como se diz na Ética de Aristóteles). Daí que o querer o último fim não seja uma daquelas coisas de que somos senhores.
A própria definição de pecado apresentada pelo CC expressa com clareza esta visão:

"O pecado é um ato contrário à razão. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana".

Concluindo com o pensamento de Santo Tomás: "O moral pressupõe o natural”

Criação

Para examinarmos o conceito central de criação no CC/Tomás, é necessário compreender a dimensão que este conceito adquire em Tomás. Seu ponto de partida é a constatação de que toda a realidade não tem origem em si mesma, não se produz a si mesma, mas é “criação: productio rerum in esse, produção das coisas no ser”.Neste sentido, o homem mostra-se limitado: ele é capaz de conferir novas formas às coisas existentes, ordená-las e transformá-las de acordo com suas necessidades. Sua criatividade permite-lhe arriscar, estabelecer novas conexões e descobrir novas possibilidades naquilo que lhe é dado. Sua atuação portanto, dá-se sobre algo que já existe, que lhe é dado, pois o homem, assim como todas as criaturas não é capaz de conferir o ser às coisas. Como afirma o CC/Tomás:

 Nenhuma criatura tem o poder infinito que é necessário para “criar” no sentido próprio da palavra, isto é, produzir e dar o ser àquilo que não o tinha de modo algum (chamar à existência “ex-nihilo”).
Esta constatação remete à existência de um Outro que faz com que tudo exista: “assim, o ser que está presente nas coisas criadas, pode somente remontar-se ao ser divino”.
“No princípio, Deus criou o céu e a terra”(Gn 1,1). Três coisas são afirmadas nestas primeiras palavras da Escritura: o Deus eterno pôs um começo a tudo o que existe fora dele. Só ele é Criador ( o verbo “criar”- em hebraico “bara”- sempre tem como sujeito a Deus). Tudo o que existe ( expresso pela fórmula “o céu e a terra”) depende daquele que dá o ser.
“Deus é o ente cuja natureza é ser, não ser isto ou aquilo, mas ser sem mais, puro ato de ser”. É “Ipsum esse subsistens, o próprio ser subsistente, a realidade propriamente dita”.
“ Em Deus não há essência que não o seu próprio ser. Deus é o que é.” Portanto, “sendo Deus o próprio ser por essência, necessariamente o ser de cada coisa criada é um feito próprio d’Ele, como queimar é próprio do fogo (...) E por isso Deus necessariamente está presente nas coisas do modo mais profundo e íntimo”.
O CC/Tomás sublinha a presença do Criador no ente criado: uma presença que não se encontra apenas na origem de todas as criaturas, mas sustenta-as permitindo sua existência a cada momento.
Deus é infinitamente maior que todas as suas obras. “Sua majestade é mais alta do que os céus”(Sl 8,2),”é incalculável a sua grandeza”(Sl 145,3). Mas por ser o Criador soberano e livre, causa primeira de tudo o que existe, ele está presente no mais íntimo das suas criaturas: “Nele vivemos, nos movemos e existimos”(At 17,28). Segundo as palavras de Sto. Agostinho, ele “superior summo meo et intereor intimo meo - maior do que o que há de maior em mim e mais íntimo do que há de mais íntimo em mim”.
Todas as criaturas portanto, são um reflexo de Deus, trazem em si algo que as transcende e de algum modo espelham a Deus. “Todas as coisas, na medida em que são assemelham-se a Deus, que é o ser primeiro e principal”.Esta é a fonte da dignidade do homem: criatura que carrega em si a imagem de Deus.
# 355. “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou”(Gn 1, 27). O homem ocupa um lugar único na criação: ele é “à imagem de Deus; na sua própria natureza une o mundo espiritual e material; é criado “homem e mulher”; Deus o estabeleceu na sua amizade.
 De todas as criaturas visíveis, só o homem é “capaz de conhecer e amar o seu Criador”, ele é “a única criatura que Deus quis em si mesma”, só ele é chamado a compartilhar, pelo conhecimento e o amor, a vida de Deus. Foi para este fim que o homem foi criado, e aí reside a razão fundamental da sua dignidade: "Que motivo vos fez constituir o homem em dignidade tão grande? O amor inestimável pelo qual enxergastes em vós mesmo a vossa criatura, e vos apaixonastes por ela; pois foi por amor que a criastes, foi por amor que lhes destes um ser capaz de degustar o vosso Bem eterno".
A dignidade da pessoa humana se fundamenta em sua criação à imagem e semelhança de Deus.
Esta afirmação é repetida exaustivamente no CC/Tomás, para ressaltar a singularidade do homem entre todas as criaturas da natureza - criado à imagem de Deus (dotado de razão, alma, liberdade e chamado à realização) - e as conseqüências desta concepção no plano pessoal e nos relacionamentos com os outros homens. Qualquer forma de discriminação nos direitos fundamentais da pessoa, seja ela social ou cultural, ou que se fundamente no sexo, raça, cor, condição social, língua ou religião deve ser superada e eliminada, porque contrária ao plano de Deus.
A compreensão do conceito de “criação” completa-se com a constatação de que o “naturalismo” presente em Tomás (CC/Tomás) apoia-se num fundamento sobrenatural. Trata-se de ressaltar que a Criação não é obra de Deus Pai, mas de toda a Trindade. A Criação é o ato inteligente de Deus, é obra do Verbo, compreendido como Logos, como princípio da Criação, que confere inteligibilidade à todas as criaturas e à toda realidade. Assim se expressa o CC/Tomás:

 “No princípio era o Verbo... e o Verbo era Deus... Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito”(Jo 1,1-3). O Novo Testamento revela que Deus criou tudo através do Verbo Eterno, seu Filho bem-amado. Foi nele “que foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra... tudo foi criado por Ele e para Ele. Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste”(Cl 1,16-17). A fé da Igreja afirma outrossim a ação criadora do Espírito Santo. Ele é o “doador de vida”. “o Espírito Criador”(Veni, Creator Spiritus”), a “Fonte de todo bem”.
Em latim, “verbum significa não só palavra, a palavra exterior vocalmente proferida, mas também o verbum interius (verbum mentis ou verbum cordis), a ‘palavra’ interior, o conceito, a idéia que corresponde à palavra exterior. Verbum significa ainda o Filho, a segunda Pessoa da Ssma. Trindade ( Jesus Cristo)”. Como afirma Tomás: “Assim como a palavra audível manifesta a palavra interior, assim também a criatura manifesta a concepção divina (...); as criaturas são como palavras que manifestam o Verbo de Deus” pois elas encerram em si mesmas um projeto divino.
 Já que Deus cria com sabedoria, a criação é ordenada: “Tu dispuseste tudo com medida, número e peso”(Sb 11,20). Feita no e através do Verbo eterno, “imagem do Deus invisível”(Cl 1,15), a criação está destinada, dirigida ao homem, imagem de Deus, chamado a uma relação pessoal com Deus. Nossa inteligência, que participa da luz do Intelecto divino, pode entender o que Deus nos diz pela sua criação, sem dúvida não sem grande esforço e num espírito de humildade e de respeito diante do Criador e da sua obra. Originada da bondade divina, a criação participa desta bondade(...)” (Gn 1,4.10.12.18.21.31).
Pela criação, portanto, Deus dá o ser às criaturas, mas não de qualquer maneira. Por ser obra do Pensamento criador de Deus - obra do Verbo - o ser das criaturas não é caótico, mas estruturado, planejado, ordenado em função de uma finalidade.

Natureza/Razão

Inicialmente, frisemos uma tese fundamental: o conteúdo da moral é essencialmente natural. Neste sentido não existe uma “moral católica” e quando a Igreja intervém veementemente em questões morais ela o faz não em nome de outra coisa que não seja a verdade a respeito do homem.
O que então, o CC/Tomás e Santo Tomás entendem por natureza humana? Que relação estabelecem entre natureza e moral?
Retomando o pensamento de Santo Tomás podemos constatar que a palavra "natureza" é comumente utilizada como sinônimo de essência, ou mais precisamente para ressaltar o aspecto da essência como princípio de operações (falar, pensar, andar, florescer, frutificar, latir, cantar, etc.).
Aqui faz-se necessária uma retomada do binômio ato de ser/ essência, base da metafísica de Tomás: todo o ente é, e é algo. Ele é (exerce o ato de ser) de um modo determinado (essência): é um ser humano ou um animal por exemplo. A essência é o modo, é a medida da recepção do ato de ser. Não se justapõe ao ser, mas “está unida ao ente real e concreto: como definição, delimitação determinação, isto é estabelecendo os limites, o fim, o término da recepção do ato de ser por este ente concreto.” Todo ente “tem uma essência (é pedra, árvore, cão ou homem) por receber o actus essendi em tal e tal forma, em tal medida”.
Quando falamos da natureza humana portanto, falamos daquilo que constitui o homem enquanto tal, de algo que existe em razão da criação.De acordo com Tomás: “Natureza” procede de nascer. É portanto, o ser que o homem recebe pelo nascimento que o torna capaz de agir especificamente como um homem e não como um animal. O que é então, próprio da natureza humana? Em suas sentenças, Tomás afirma:

“O primeiro princípio de todas as ações humanas é a razão e quaisquer outros princípios que se encontrem para as ações humanas obedecem, de algum modo, à razão".

“A razão é a natureza do homem. Daí que tudo o que é contra a razão é contra a natureza do homem".

A razão portanto, é a estrutura interna do homem e a capacidade intelectual de compreensão da natureza de todas as coisas. Lembremos que “razão, não deve aqui ser entendida como a razão do "racionalismo", nem sequer somente como a faculdade racional humana. Dentre os múltiplos significados da palavra latina ratio (que acompanha alguns dos diversos sentidos do vocábulo grego logos), interessam-nos principalmente dois: um que aponta para algo intrínseco à realidade das coisas; e, outro, para um peculiar relacionamento com a realidade”.
Aqui é necessário ressaltar, como nos explica Lauand, que cada coisa real “sendo criada pelo Verbo, tem uma ratio, uma natureza, um conteúdo, um significado, ‘um quê’, uma verdade que, por um lado, faz com que a coisa seja aquilo que é e, por outro, a torna cognoscitível para a inteligência humana. Um conhecimento que será tanto mais adequado quanto maior for a objetividade com que se abrir à realidade contida no objeto.(...) É precisamente essa ratio que, por um lado, estrutura por dentro qualquer ente que, por outro, permite, como dizíamos, o acesso intelectual humano a esse ente .
Assim como toda a realidade é fruto da Criação através do Verbo, o ser humano também procede da Inteligência criadora de Deus e por isto, tem incorporado em si uma racionalidade que o estrutura internamente, que o constitui e lhe confere inteligibilidade. Através da razão o homem pode conhecer, entrar em contato com a racionalidade inerente à toda realidade. Por isto pode-se afirmar a existência de uma “ordem” , que corresponde à estruturação racional (projeto divino) existente em todas os seres em virtude da Criação:

Respeitar as leis inscritas na criação e as relações que derivam da natureza das coisas é princípio de sabedoria e fundamento da moral.
A moralidade, portanto, deriva da própria natureza humana. A lei moral não é um conjunto de exigências exteriores ao homem, mas expressão de sua natureza, tal como ela foi constituída em virtude da criação e torna-se conhecida através da razão.
O CC/Tomás assinala a existência da lei moral natural, por vezes chamada de ”lei natural e divina” para ressaltar sua origem: a verdade que orienta o agir, encontra-se no ser do homem, em sua natureza que deriva do Criador . É esta a verdade que o instrui.
A lei “divina e natural” mostra ao homem o caminho a seguir para praticar o bem e atingir seu fim. A lei natural enuncia os preceitos primeiros e essenciais que regem a vida moral. Tem como esteio a aspiração e a submissão a Deus, fonte e juiz de todo bem, assim como sentir o outro como igual a si mesmo. Está exposta, em seus principais preceitos, no Decálogo. Essa lei é denominada natural, não em referência à natureza dos seres irracionais, mas porque a razão que a promulga pertence com algo próprio à natureza humana(...).
A lei natural outra coisa não é senão a luz da inteligência posta em nós por Deus. Por ela, conhecemos o que se deve fazer e o que se deve evitar. Esta luz ou esta lei, deu-a Deus à criação.”
Ter uma razão é a natureza do homem, por isto a lei natural impõe-se a todo ser dotado de razão, ainda que este se encontre em circunstâncias culturais e épocas distintas. Por isto o CC/Tomás ressalta que a lei natural é universal, imutável e não diz respeito apenas à conduta moral de cada homem em particular, mas de toda a sociedade. A própria concepção de autoridade, seu exercício legítimo e a busca do bem comum, encontram seu fundamento na lei natural:
 A legislação humana não goza do caráter de lei senão na medida em que se conforma à justa razão; donde se vê que ela recebe o seu vigor da lei eterna. Na medida em que ela se afastasse da razão, seria necessário declará-la injusta, pois não realizaria a noção de lei; seria antes uma forma de violência.
Na condição de criatura, que traz em si algo do Criador, o homem busca sua realização. A busca da felicidade, nada mais é do que a expressão natural da ordenação do homem ao seu fim último, à sua plenitude. Como afirma Santo Tomás: “O homem quer a felicidade por natureza e por necessidade”. “A criatura espiritual deseja naturalmente ser feliz; por isso, ela não pode não querer ser feliz’. “Querer ser feliz não é objeto de decisão livre” pois “O desejo do último fim não está entre os objetos dos quais somos senhores”.
A afirmação de que “ O homem aspira, por natureza à felicidade”, ressalta a conexão profunda entre natureza e felicidade. Como nos explica Pieper: “Se, faz parte da definição do espírito criado (criatura) que ele recebeu seu ser e o complemento imediato de sua vida de outrem, ab alio, isto é, do ato da criação que produz o seu ser, então, necessariamente, está incluído que em meio ao espírito criado algo sucede que é ato dele próprio, e, portanto, espiritual, mas ao mesmo tempo sucede “por causa da criação”, um fato natural. É este precisamente o caso do desejo da felicidade; é um “querer natural”, isto é, ao mesmo tempo ato espiritual e ato natural.Nas palavras do CC/Tomás:

 A pessoa humana participa da luz e da força do Espírito divino. Pela razão é capaz de compreender a ordem das coisas estabelecida pelo Criador. Por sua vontade, ela é capaz de ir ao encontro de seu verdadeiro bem. Encontra sua perfeição na “busca e no amor da verdade e do bem”.
Como ensina Pieper: “Todo desejo de felicidade do homem, por menores que sejam as satisfações em que se possa perder, se orienta infalivelmente para uma satisfação suprema que é o que na realidade ele procura”. Da mesma forma, o CC/ Tomás afirma que o desejo de felicidade que só encontra correspondência nas bem-aventuranças, está na raiz de todos os atos humanos, é a expressão mais genuína da natureza humana, pois indica sua origem e aponta para seu destino.
As bem-aventuranças respondem ao desejo natural de felicidade. Este desejo é de origem divina: Deus o colocou no coração do homem a fim de atraí-lo para si, pois só ele pode satisfazê-lo. Todos certamente queremos viver felizes e não existe no gênero humano pessoa que não concorde com esta proposição mesmo antes de ser formulada por inteiro. Então, como vos hei de procurar, Senhor? Quando vos procuro, meu Deus, busco a vida eterna.
Por seus atos deliberados, o ser humano pode orientar sua vida na direção das bem-aventuranças ( felicidade, fim último). Através de sua consciência o homem reconhece os preceitos da lei natural, que o conduzem à plenitude e usando de sua liberdade pode aceitá-los ou rejeitá-los:
Presente no coração da pessoa, a consciência moral lhe impõe, no momento oportuno, fazer o bem e evitar o mal. Julga, portanto, as escolhas concretas, aprovando as boas e denunciando as más. Atesta a autoridade da verdade referente ao Bem supremo, de quem a pessoa humana sente a atração e acolhe os mandamentos. Quando escuta a consciência moral, o homem pode ouvir Deus, que fala.
Quanto mais prevalecer a consciência reta, tanto mais as pessoas e os grupos se afastam de um arbítrio e se esforçam por conformar-se às normas objetivas da moralidade.
É na ação do homem que se concretiza a relação entre a liberdade e o bem supremo, pois é através de seus atos que o homem se aperfeiçoa como homem, “como homem chamado a procurar espontaneamente o seu Criador e a chegar livremente pela adesão à ele, à perfeição total e beatífica” . Desta forma, “o agir é moralmente bom quando exprime a ordenação voluntária da pessoa para o fim último e a conformidade da ação concreta com o bem humano, tal como é reconhecido na sua verdade pela razão”. Quando a ação do homem não está em sintonia com o seu verdadeiro bem, podemos afirmar que esta ação é moralmente má, pois o afasta de seu fim último, de sua plenitude, isto é do próprio Deus.
A liberdade faz do homem um sujeito moral. Quando age de forma deliberada, o homem é, por assim dizer, pai de seus atos. Os atos humanos, isto é livremente escolhidos após um juízo da consciência, são qualificáveis moralmente. São bons ou maus.
Existem comportamentos concretos cuja escolha é sempre errônea, porque escolhê-los significa uma desordem da vontade, isto é, um mal moral. Não é permitido fazer o mal para que dele resulte um bem.

Daí segue-se a definição de pecado:

O pecado é uma falta grave contra a razão, a verdade , a consciência reta: é uma falta ao amor verdadeiro, para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana. Foi definido como “uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna”.
É portanto na natureza do homem que vamos encontrar as razões e o sentido do agir humano. Utilizando as palavras de E. Gilson: “O fundamento da moral é a própria natureza humana. O bem moral é todo o objeto, toda operação que permite ao homem realizar as capacidades de sua natureza e atualizar-se segundo a norma de sua essência, que é a de um ser dotado de razão”.

Graça e Participação

A partir dos conceitos de graça e participação saímos da esfera da moral exclusivamente natural, aceitando-a integralmente, mas acrescentando algo que transcende a natureza: o sobrenatural.
Graça e participação não prescindem da natureza, nem das leis que a constituem e a ordenam, mas indicam realidades que estão além da natureza e que atuando no homem, conferem-lhe um significado diferente: toda a realidade humana na unidade alma e corpo não é essencialmente alterada, mas assumida num outro plano.
O que possibilita ao homem entrar na órbita de uma vida sobre-humana? Como compreender a presença do divino no humano, caraterística da ordem sobrenatural? Comecemos por examinar o conceito de participação.
A palavra participação admite vários significados, mas aquele que nos interessa “é expresso pela palavra metékhein: “ter com”, um “com ter”; ou simplesmente “ter” em oposição a “ser”; um “ter” pela união (participação) com outro que “é”.
Quando nos detemos exclusivamente no plano natural, podemos afirmar que todas as criaturas participam do ser de Deus, recebem de Deus (ato puro de ser) o ser que as constitui. Por isto toda criatura é sempre um reflexo, uma imagem do Criador: “Todas as coisas, na medida em que são, reproduzem de algum modo a essência divina; mas não a reproduzem todas da mesma maneira, mas de modos diferentes e em diversos graus.”
Quando porém passamos ao plano sobrenatural, o conceito de participação adquire outro significado: não mais a participação no ser, mas em Deus enquanto tal, na própria vida divina.
Este é o significado mais pertinente da graça: participação da vida íntima de Deus. É nesse sentido que falam Heb 3,14: "Somos participantes de Cristo" e 2Pd. 1,4: "Participamos da natureza divina".
Santo Tomás descreve de diferentes formas esse participar de Deus: “A graça é uma certa semelhança com Deus de que o homem participa”; “O primeiro efeito da graça é conferir um ser de alguma forma divino”; “Pela graça santificante, toda a Trindade passa a habitar na alma”. Estas formulações são assumidas na íntegra pelo CC/Tomás da seguinte forma:

A graça é uma participação na vida divina; introduz-nos na intimidade da vida trinitária.

É algo totalmente sobrenatural, na medida em que:

 Depende integralmente da iniciativa gratuita de Deus, pois apenas ele pode se revelar e dar-se a si mesmo. Ultrapassa as capacidades da inteligência e as forças da vontade do homem, como também de qualquer criatura.
Desta forma, graça designa “antes de tudo uma relação, um encontro, uma ruptura de compartimentos estanques, nos quais o divino e o humano permaneceriam incomunicáveis, uma subversão da pirâmide ontológica , tal e qual a pensaram os gregos, segundo a qual o homem está abaixo e Deus está acima. Graça significa que Deus se abaixou, condescendeu com o homem; que o homem transcendeu até Deus; que, por conseguinte, a fronteira entre o divino e o humano não é impenetrável, mas se tornou permeável. E que, enfim, tudo isto acontece gratuitamente: Deus não tem nenhuma obrigação de tratar assim o homem; o homem não tem nenhum direito a ser tratado assim por Deus”.
A graça (participação na vida divina) confere ao homem uma filiação divina, que não deve ser confundida com a que ele e as demais criaturas obtém ao participarem do ser pela Criação.
Trata-se de uma filiação totalmente nova: o cristão participa de Cristo, que é Filho de Deus e adquire uma filiação divina. Como “filho adotivo” (a filiação natural pertence somente a Cristo) o cristão pode até mesmo dirigir-se a Deus como Pai, como nos explica o CC/Tomás:
 A graça é o favor, o socorro gratuito que Deus nos dá para responder a seu convite: tornar-nos filhos de Deus, filhos adotivos, participantes da natureza divina, da Vida Eterna.
Através do batismo, o homem pode participar da natureza divina, ocorrendo assim, um verdadeiro “renascimento”.A ação da presença infinita de Deus no homem produz, não um “quid superadditum”, mas um novo modo de ser, uma nova conformação ontológica que se expressa através de atos.
 Se alguém está em Cristo, é nova criatura. passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova. Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por Cristo (2Cor. 5,17-18).
Neste ponto vale lembrar uma das principais sentenças de Santo Tomás: “A graça não suprime a natureza, aperfeiçoa-a”.
A graça, portanto não prescinde nem diminui a natureza humana, mas situa-a no interior de uma realidade sobrenatural. O próprio Tomás reconhece que o homem, por natureza, busca o infinito, é capax infiniti (capaz do infinito) e ao mesmo tempo, é incapaz de atingí-lo por seus próprios meios.
Como sintetiza O.H. Pesch: “graça é o chegar do amor eterno de Deus à alma, ou, dizendo modernamente, ao eu íntimo do homem. Deus dá ao homem, nesse amor, não algo, (...) dá-se a si mesmo. E essa auto doação divina opera no homem a capacidade e a propensão (inalcançáveis de outro modo) para corresponder ao amor de Deus com uma entrega análoga, ou seja, espontânea e gozosa. O saldo resultante é amizade em recíproca comunicação, que compromete todo o agir humano, condensando-o num único movimento fundamental para Deus”.
Ao realizar esta breve síntese, o autor já indica de modo inequívoco a relação entre a graça e conteúdo da moral.
Ainda que o conteúdo moral encontre-se no interior do próprio homem, ainda que as leis morais existentes na natureza possam ser reconhecidas por cada homem indicando o caminho para sua plenitude, do ponto de vista cristão, isto só pode ocorrer com a ajuda da graça. Comentando a importância da lei antiga (Decálogo), cujo conteúdo exprime verdades naturalmente acessíveis à razão, o CC/ Tomás objeta que:
 Como um pedagogo, ela (a lei) mostra o que se deve fazer, mas não dá por si mesma a força, a graça para cumpri-la. Por causa do pecado que não pode tirar, é ainda uma lei de servidão.
Dito de outra forma: “a graça é condição para o agir humano”,  pois a coerência com os preceitos morais não é fruto de um esforço puramente humano (quase sempre triste e desesperado), mas da graça.
Não se trata, pois do frio cumprimento de uma "lei", mas de uma questão de amor, da consciência de ser uma nova criatura, portadora da vida divina. É o que diz o Apóstolo: "Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? E haverei de tomar eu os membros de Cristo para torná-los membros de uma prostituta? De modo algum!" (I Cor 6:15).
Se, como dizíamos, não há uma "moral católica" no que diz respeito a conteúdos, ela existe quanto ao aspecto formal, quanto à motivação, à vivência da Moral pelo cristão que se sabe participante da divindade de Cristo. 
 “Cristão, reconhece a tua dignidade. Por participares agora da natureza divina, não te degeneres retornando à decadência de tua vida passada. Lembra-te da Cabeça a que pertences e do Corpo de que és membro. Lembra-te de que foste arrancado do poder das trevas e transferido para a luz e o Reino de Deus.
De acordo com o CC/Tomás a moral - para além de regras, normas, convenções ou imposições sociais - diz respeito ao próprio ser do homem: à sua auto-realização.
Este é precisamente o sentido do conceito de criação, “fundamento da moral” (# 354). O conceito de criação, participação no ser de Deus, confere ao homem uma natureza dinâmica, que pelo seu agir livre e responsável pode caminhar em direção àquela realização prevista pelo Verbum, o pensamento criador divino.
Assim se compreende também o conceito de razão, entendida como a presença de um logos no homem: “existe, sem dúvida, uma verdadeira lei: é a reta razão” (1956).”
O plano sobrenatural não acrescenta nada de substantivo ao conteúdo da moral, mas dá ao cristão uma perspectiva nova quanto à motivação e a dignidade de seus atos. "Agnosce christiane dignitatem tuam” repete o CC/ Tomás para lembrar ao cristão a essencial doutrina da graça, que, por participação, o faz filho de Deus em Cristo, “viver em Cristo”.
Assim, o cristão que é ele mesmo “outro Cristo”(Gl 2, 20) e vê nos outros homens “outros Cristos” transcende a moral “da lei” e passa a viver a moral do amor.
Desta forma, a educação para a moral pressupõe o conhecimento sobre aquilo que a fundamenta: o próprio ser do homem, a natureza humana, que participa do ser divino em virtude da criação. A grande tarefa dos educadores hoje é portanto, ajudar o homem a tomar consciência de si mesmo, reconhecendo aquilo que o constitui e o qualifica como tal.
Jesus ressaltou a importtância do coração,que deve ser puro,para que dele não saiam ações más:"O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem.Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem.

Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.
São estas coisas que contaminam o homem"(Mt 15,11.18-20a).


Diferença entre Ética e Moral


A confusão entre as palavras Moral e Ética existe há muitos séculos. A própria etimologia destes termos gera confusão. Ética vem do grego Ethos que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de (mores), significando costumes. Esta confusão pode ser resolvida com o esclarecimento dos dois temas. Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. Durkheim explicava Moral como a Ciência dos costumes, sendo algo anterior a própria sociedade. A Moral tem caráter obrigatório.
Já a palavra Ética,define como um conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se comportar no seu meio social.
Lembre-se que ser ético é ser responsável por suas atitudes, sempre voltados para os valores morais. Ser ético é agir direito, proceder bem, sem prejudicar os outros. É ser honesto em qualquer situação, é ter coragem para assumir seus erros e decisões, ser tolerante e flexível, é ser humilde.Sei que é muito difícil ser ético em nossos dias. Há muitas situações que nos fazem recuar. Outras nos fazem calar pra não sofrer represálias se tenta inibir ou afrontar colegas e indivíduos que não tem nenhum senso de moral ou ética em suas vidas.

Homem e mulher,imagem de Deus.

O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus:"Deus disse:Façamos o ser humano á nossa imagem e segundo a nossa semelhança...Deus criou o ser humano à sua imagem,á imagem de Deus o criou.Homem e mulher ele os criou"(Gn1,26a-27).
O trecho acima nos afirma que Deus criou todas as coisas por meio da Palavra.Deus criou o homem e a mulher pelo amor e para o amor e,assim,devem viver a partir desse amor.
O amor supõe uma resposta a ser dada numa vida de comunhão(comum união),que se abre para múltiplas relações.Essas relações existenciais ao ser humano só adquirem verdadeiro sentido e têm sua plenitude na relação com Deus.
Homem e mulher,habitantes do mundo,são chamados a cultivar,zelar e preservar a natureza com amor e carinho,pois se trata de uma dádiva para com Deus.Esse mandato divino assume na atualidade,cada vez com mais força,um caráter de urgência.O ser humano é chamado a viver uma justa relação com o mundo.A ecologia requer  um relacionamento saudável com o mundo.A relação com a natureza deve ser consequência de uma boa relação com Deus e com as criaturas.
Ser criado à imagem e semelhança de Deus significa que a pessoa é livre,racional e chamada a amar.O homem,diferente das demais criaturas,foi criado para a comunhão com os outros e com Deus.A pessoa humana só se realiza plenamente,quando dá e compartilha sua vida com os outros.Se esta experiência foi bem vivenciada,ela é uma antecipação daquilo que é a vida definitiva no céu:"Comunhão plena de mor com Deus e os irmãos".
"Criado á imagem do Deus único,dotados de uma mesma alma racional,todos os homens têm a mesma natureza e a mesma origem.Resgatados pelo sacrifício de Cristo,todos são convidados a participar na mesma felicidade divina;todos gozam,portanto,de igual dignidade"(CIC-Catecismo da Igreja Católica).

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O Sentido de Viver

Quem de nós nunca se questionou sobre a razão da vida, o porque da existência terrena?

Se somos seres eternos, dotados de consciência individual porque necessitamos nascer e morrer e ter um corpo e perdê-lo e voltar a ter-lo?
Muitas de nossas questões estão explícitas no próprio idioma e ainda assim custamos a ver.
O “sentido” de viver poderia ser lido em outras palavras como : O “propósito” de viver.
Ao mesmo tempo a palavra “Sentido” pode ter o significado de “Sensibilidade” no caso dos “Sentidos” humanos. Mas também pode estar infimamente ligada ao verbo “Sentir” e ainda à palavra “Sentimento”.
Nossos sentidos sabemos de onde vem, o paladar, o tato, a audição, a visão, o olfato e até mesmo nosso sexto sentido temos uma idéia de um órgão físico responsável pelo mecanismo.
Mas e os nossos sentimentos? De onde eles vêem? Alguns dizem que é do coração, mas sabemos que o coração é tão somente o órgão que bombeia o sangue... Interessante é que cerca do coração temos um Chakra Anahata que “dói” quando estamos tristes, que parece que cresce quando estamos felizes... De onde vem este sentimento? De que órgão?
De nenhum, nosso espírito é quem tem sentimentos. Nosso corpo físico possui sentidos que possibilitam ao espírito a vivência de emoções.
Qual é então o significado de viver?
Despertar todos os dias, trabalhar, fazer tudo certinho, planejado, ser uma pessoa responsável, estar na hora certa, no lugar certo, amontoar riquezas?
Há que agir com razão, mas quem disse que o conceito de razão da raça humana está correto? Que razão temos para sermos escravos? Que razão temos para tentarmos ser todos iguais, seguir um padrão moral e ético? Que razão temos para trabalhar sem cessar para acumular riquezas, ao invés de usufruir delas se vamos morrer? Que razão temos para ouvir o que os outros vão dizer se eles não podem sentir o que sentimos? E que razão temos para sufocar o que temos de mais autêntico de nós mesmos que são os nossos sentimentos?
Quem disse que tinha que ser assim? Porque agimos assim?
Porque não vemos que a razão humana não tem a ver com a razão divina e cada vez mais ofusca o véu da espiritualidade?
Porque não percebemos que o verdadeiro e único propósito de viver é sentir. Sentir, sentir, sentir... Sentir todos os tipos de emoções que são na verdade experiências espirituais. E nesta vivência às vezes exaustiva de fortes emoções que provocam ora alegria, ora lágrimas acabamos cedo ou tarde descobrindo a mais sublime de todas as experiências místicas da alma: O Amor. E só depois de descobri-la é que se pode enxergar que a inércia é uma profanação contra si mesmo, pois acomodados não vivem mas sobrevivem vegetando e sendo roubados pelo maior ladrão que existe: O Medo, que é o único que realmente pode lhe roubar algo de valor: O Tempo, porque este sim é irrecuperável!
Cada momento é único em sua vida, então pense se há razão para continuar como está, estagnado, acomodado, esperando o momento ideal para agir... E seus sonhos? E seus ideais?E os teus sentimentos? Quando será o momento ideal? Não sabe? Está esperando?
Será que ele vai chegar? Que tal você ir até ele? Pode ser agora, ou nunca, só depende de você!
A verdadeira vida está em viver na presença de Deus, alimentado pelo relacionamento com Ele, dependente dEle, da Sua direção, ordem, vontade, amor e consolo. Tudo o que precisamos realmente é Ele e vem dEle. Ele nos fez dessa maneira: para estarmos ligados a Ele num vínculo de amor, de Pai e filho.

Quando o ser humano se afastou de Deus, dessa relação com Ele, perdeu o sentido de sua vida, pois ele está em Deus e na Sua presença na nossa vida. Fomos então encarar a vida de um modo independente, buscando nossas necessidades sem consultá-lo, estabelecendo relacionamentos para saciar nossas necessidades e não buscando o interesse do próximo, para amá-lo. Esquecemos o que é o amor verdadeiro, porque esquecemos do nosso Pai, de Deus, que Ele é amor e o amor verdadeiro vem dEle. Tudo que Ele criou perdeu o sentido porque nós desvirtuamos tudo, corrompemos tudo, pelos nossos desejos egocêntricos e de reconhecimento, de aplausos: o orgulho. Tudo se afastou da forma pura que Deus planejou para nós. Precisamos parar. Precisamos decidir voltar e reaprender o amor verdadeiro: o amor de Deus.
A sociedade caiu em grande competição e individualismo porque todos deixaram de buscar os interesses do outro e buscaram o seu próprio. Todos diminuiram o próximo para exaltar a si mesmo, buscando reconhecimento de si em detrimento do próximo. Precisamos parar. Precisamos decidir voltar e reaprender o amor verdadeiro: o amor de Deus. Para Deus todos temos igual valor. Somos diversos e diversas as nossas funções, mas todos tem mesmo valor aos olhos do Criador. Ele nos fez para todos sermos servos o máximo frutíferos para Ele. Ele é o dono de tudo e promete não deixar faltar nada aquele que O teme, que tem coração contrito e quebrantado diante da Sua palavra e quer viver uma vida de amor, em obediência aos mandamentos dEle.
Os mandamentos de Deus nada mais são do que instruções para nos preservar, para não violarmos o amor ao próximo, pois a essência da Torah é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.Quando violamos os mandamentos fazemos mal ao nosso próximo e a nós mesmos: colhemos conseqüências ruins, sofrimento. Quando amamos somos realmente felizes. Não que não estejamos sujeitos às dificuldades e sofrimento de um mundo decaído. Mas temos alegria de viver para benefício do próximo, buscando aquilo que interessa a Deus para aquela vida.
É verdade que as pessoas muitas vezes erram conosco, mas nós erramos com elas. Eu não posso decidir por ninguém. Posso decidir por mim. Posso decidir me arrepender dos meus erros. Isso é o melhor que faço por mim, mas não só por mim, pelo meu próximo. Seu eu me volto para o caminho do amor, ajudo outros a também se voltarem: E isso não acontece alheio a presença de Deus nas nossas vidas. Ele é a Fonte: por isso Ele é Deus e nós suas criaturas, obra de suas mãos: para que nEle tudo que é vivo se nutra e se sustente e ame e glorifique o criador que é Santo, o único que nunca violou o amor.
É preciso somente uma decisão: EU QUERO SEGUIR-TE, DEUS, me ensina a viver, amar. Faça essa oração para Ele. Não importa quantas dúvidas tenha, ou quantos medos tenha, fale com seu Criador. Ele te ama tanto. Ele está te esperando voltar. Se fizer isso de coração Ele te ensinará e te guiará. Não será fácil, mas Ele estará contigo. O mundo muitas vezes o rejeitará. Mas é porque o mundo, na sua maioria, rejeita abrir mão dos seus desejos egocêntricos para amar e fazer a vontade de Deus e viver o amor verdadeiro, que é altruísta e busca em primeiro lugar os interesses de Deus na vida da pessoa.
Se você já fez essa decisão e pedido para Deus, já deu o primeiro passo, o passo mais importante da sua vida, de descobrir como viver sua nova vida com Deus. A jornada não será fácil, pois é preciso ter um coração de criança, para reaprender com Deus, um coração diligente buscando ouvir, entender e aplicar no dia a dia, pedindo sua ajuda, os ensinamentos de Deus, O único que pode transformar as letras em algo vivo no nosso coração (O único que dá entendimento, O único que ensina).

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Eucaristia:Nosso tesouro.

Muitas vezes queremos compreender como o Senhor dá Seu corpo e sangue na forma de pão e vinho, mas isso será sempre um mistério de fé. Jesus, sabendo disso, veio em auxílio a nossa fraqueza e a nossa incredulidade. Para que pudéssemos aceitar com mais facilidade o mistério da Eucaristia, Ele realizou muitos prodígios: andou sobre as águas, multiplicou os pães, apareceu aos apóstolos após Sua ressurreição; tudo para que soubéssemos que Ele tem o poder de realizar aquilo que realizou na Eucaristia.

Jesus quis concretizar Sua presença sob as espécies de pão e vinho, para que compreendêssemos que a Eucaristia, é Seu corpo, que vem ser presença, remédio, cura, alimento e força para nós.
“Pois minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida. Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele” (Jo 6, 55-56).
Só comungando frequentemente e adorando Jesus no Santíssimo Sacramento conseguiremos forças para prosseguir numa vida de santidade.
Se você contraísse qualquer doença grave, certamente tomaria todos os remédios indicados pelo médico. O remédio para curar as doenças espirituais é a Eucaristia. É o próprio corpo e sangue, alma e divindade do Nosso Senhor Jesus Cristo, o remédio eficaz para o nosso corpo e para a nossa alma. Comungando o corpo do Senhor, nossos pensamentos, sentimentos, ideias e fantasias são purificados. A descontaminação acontece pela Eucaristia.
Além de receber Jesus Eucarístico, é preciso adorá-Lo no Santíssimo Sacramento. Seja adorador! Se por vários motivos você não puder permanecer por muito tempo em adoração, passe pelo menos cinco minutos por dia diante de Jesus presente no sacrário.
Somos incapazes de imaginar os benefícios que recebemos quando estamos em adoração diante do Santíssimo Sacramento. Da mesma forma que nos unimos ao sofrimento de alguém que amamos, Jesus se une a nós. No momento em que estamos diante do Santíssimo Sacramento, Jesus está diante de nós.
Jesus na Eucaristia deseja ardentemente esse encontro, e, como ovelhas machucadas, precisamos nos encontrar com Ele para a nossa cura.

O que é a Eucaristia?

A Eucaristia é a consagração do pão no Corpo de Cristo e do vinho em seu Sangue que renova mística e sacramentalmente o sacrifício de Jesus na Cruz. A Eucaristia é Jesus real e pessoalmente presente no pão e no vinho que o sacerdote consagra. Pela fé cremos que a presença de Jesus na Hóstia e no vinho não é só simbólica, mas real; isto se chama o mistério da transubstanciação já que o que muda é a substância do pão e do vinho; com relação a forma, cor, sabor, etc.— permanecem iguais.

A instituição da Eucaristia, aconteceu durante a última ceia pascal que celebrou com seus discípulos e os quatro relatos coincidem no essencial, em todos eles a consagração do pão precede a do cálice; embora devamos lembrar, que na realidade histórica, a celebração da Eucaristia ( Fração do Pão ) começou na Igreja primitiva antes da redação dos Evangelhos.
Os sinais essenciais do sacramentos eucarístico são pão de trigo e vinho da videira, sobre os quais é invocada a bênção do Espírito Santo e o presbítero pronuncia as palavras da consagração ditas por Jesus na última Ceia: “Isto é meu Corpo entregue por vós… Este é o cálice do meu Sangue…”
Encontro com Jesus amor
Necessariamente o encontro com Cristo Eucaristia é uma experiência pessoal e íntima, e que supõe o encontro pleno de dois que se amam. É, portanto, impossível generalizar sobre eles. Porque só Deus conhece os corações dos homens. Entretanto, sim devemos transluzir em nossa vida, a transcendência do encontro íntimo com o Amor. É lógico pensar que quem recebe esta Graça, está em maior capacidade de amar e de servir ao irmão e que além disso, alimentado com o Pão da Vida deve estar mais fortalecido para enfrentar as provações, para encarar o sofrimento, para contagiar sua fé e sua esperança. Em fim, para levar a feliz término a missão, a vocação, que o Senhor lhe dá.
Se apreciássemos de veras a Presença de Cristo no sacrário, nunca o encontraríamos sozinho, acompanhado apenas pela lâmpada Eucarística acesa, o Senhor hoje nos diz a todos e a cada um, o mesmo que disse aos Apóstolos “Com ânsias desejei comer esta Páscoa convosco ” Lc.22,15. O Senhor nos espera ansioso para entregar-se a nós como alimento; somos conscientes disso, de que o Senhor nos espera no Sacrário, com a mesa celestial servida.? E nós, por que o deixamos esperando.? Ou é por acaso, quando vem alguém de visita a nossa casa, o deixamos na sala e vamos nos ocupar de nossas coisas?
É exatamente isso o que fazemos em nosso apostolado, quando nos enchemos de atividades e nos descuidamos na oração diante do Senhor, que nos espera no Sacrário, preso porque nos “amou até o extremo” e resulta que, por quem se fez o mundo e tudo o que nele habita (nós inclusive) encontra-se ali, oculto aos olhos, mas incrivelmente luminoso e poderoso para saciar todas nossas necessidades.

Pentecostes:O nascimento da Igreja.

"Todos ficaram cheios do Espírito Santo"(At 2,4).

O Pentencostes reuniu-nos numa mesma salvação, numa mesma história, numa mesma celebração pascal e numa mesma ação missionária. O Pentecostes possibilitou a reunião de todos os povos num mesmo ideal, num mesmo entendimento e num mesmo trabalho apostólico. O Pentecostes aconteceu para superar no relacionamento humano, religioso e social, todas as diferenças, preconceitos, imposições e conflitos de raça, língua, condição social, política, econômica e religiosa.
Com o Pentecostes superou-se a confusão da “Torre de Babel.” Agora, a única língua aceitável e compreensível é a da Caridade: “dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei...Jo.15,12-15” . A única ordem a ser obedecida é a do mandato missionário de Jesus: “ide, pois, e ensinai a todas as nações...Mt 28,19-20”. O único estilo de vida necessário é o da caridade e o do perdão...M7 18,21; 5,7; Lc. 6,36.
Desde a  fundação da  Igreja no dia de Pentecostes, o Espírito Santo é quem a constrói, anima e santifica, lhe dá vida e unidade e a  enriquece com seus dons. O Espírito Santo segue trabalhando na Igreja de muitas maneiras distintas, inspirando, motivando e impulsionando os cristãos,  em forma individual ou como Igreja num todo, ao proclamar a Boa Nova de Jesus. Desde a fundação da Igreja no dia de Pentecostes, o Espírito Santo é quem a constroi, anima e santifica, lhe dá vida e unidade e a enriquece com seus dons. O Espírito Santo segue trabalhando na Igreja de muitas maneiras distintas, inspirando, motivando e impulsionando os cristãos,  em forma individual ou como Igreja num todo, ao proclamar a Boa Nova de Jesus.
Enquanto a Páscoa era uma festa caseira, Colheita ou Semanas ou Pentecostes era uma celebração agrícola, originalmente, realizada na roça, no lugar onde se cultivava o trigo e a cevada, entre outros produtos agrícolas. Posteriormente, essa celebração foi levada para os lugares de culto, particularmente, o Templo de Jerusalém. Os muitos relatos bíblicos não revelam, com clareza, a ordem do culto, mas é possível levantar alguns passos dessa liturgia:

-a cerimônia começava quando a foice era lançada contra as espigas (Dt 16.9). É bom lembrar que deveria ser respeitada a recomendação do direito de respigar dos pobres e estrangeiros (Lv 23.22; Dt 16.11);
-a cerimônia prosseguia com a peregrinação para o local de culto (Ex 23.17);
-o terceiro momento da festa era a reunião de todo o povo trabalhador com suas famílias, amigos e os estrangeiros (Dt 16.11). Essa cerimônia era chamada de "Santa Convocação" (Lv 23.21). Ninguém poderia trabalhar durante aqueles dias, pois eram considerados um período de solene alegria e ação de graças pela proteção e cuidado de Deus (Lv 23.21);
-no local da cerimônia, o feixe de trigo ou cevada era apresentado como oferta a Deus, o Doador da terra e a Fonte de todo bem (Lv 23.11).
Os celebrantes alimentavam-se de parte das ofertas trazidas pelos agricultores;
As sete semanas de festa incluíam outros objetivos, além da ação de graças pelos dons da terra: reforçar a memória da libertação da escravidão no Egito e o cuidado com a obediência aos estatutos divinos (Dt 16.12).

A família e seus símbolos

Tão prioritária é a família na vida da pessoa, da sociedade e da Igreja, que nos servimos de símbolos para avaliar e explicar sua centralidade. Vamos aqui nos ocupar com alguns símbolos, provavelmente os mais conhecidos, porém muito significativos e iluminadores, para que a família recupere sua credibilidade e seu primado.

1. Família, nossa “primeira pátria”. É nosso primeiro chão, nossa identidade original, nossa casa. Nela somos gerados, cuidados, educados como cidadãos e dela recebemos as condições para a convivência pública e as virtudes sociais. Sem a família, primeira pátria, não teremos a segunda pátria, a comunidade nacional, o povo, a nação. A família é a primeira sociedade natural. Está no centro da vida social.
2. Família, nosso “segundo útero”. Entendemos por segundo útero, a educação, cultura, valores que recebemos na família. Ela é o útero cultural, educacional, espiritual, religioso, ali nascemos para a convivência humana e recebemos as condições para sermos pessoas centradas, civilizadas, humanizadas, amadurecidas.
3. Família, “patrimônio da humanidade”. Todos os povos têm a família como instituição, organização e patrimônio social. È a mais antiga instituição social com a função procriativa, econômica, educativa e afetiva. Pela alteridade, reciprocidade e complementariedade a família é o primeiro lugar de nossa convivência humana. É a primeira sociedade natural, uma comunidade natural, um patrimônio da humanidade.
4. Família, “tesouro dos povos”. É a maior riqueza da pessoa e da sociedade, porque gera a vida, facilita o relacionamento, é escola de “comunhão com os outros e de doação aos outros”. Nela recebemos as primeiras noções a respeito do amor, do bem, da verdade, dos valores. Nela aprende-se ser pessoa.
5. Família “ninho da vida”. A família está a serviço da vida. A vida é concebida, gerada, nascida, desenvolvida, amada, amadurecida na família. Ninho é símbolo de calor humano, do afeto, do cuidado, significa também abrigo e proteção da vida. Na família se desenvolve a “ecologia humana”.
6. Família “berço de vocações”. Na família as vocações e as profissões têm sua origem, motivação, incentivo. A família que cultiva a espiritualidade, participa da comunidade, respeita as vocações, educa para os valores e ensina as limitações, torna-se berço de vocações e de profissões.
7. Família “sacrário da fé”. O sacramento do matrimônio, a educação e vivência da fé fazem da família o sacrário da fé onde os pais transmitem para as novas gerações o tesouro da fé. É preciso falar de Deus aos filhos, ensinar religião e praticar a oração. Tudo isso colabora para a serenidade, motivação e educação dos filhos. A espiritualidade familiar defende nossos lares dos ataques do mal.
8. Família, “igreja doméstica”. É a primeira comunidade religiosa, onde os pais são sacerdotes pelo batismo, são os primeiro catequistas. A família é uma comunidade de vida, de amor e de fé. Nossas casas são também santuários.
9. Família “santuário do amor”. A Palavra de Deus ensina que “não é bom o homem estar só” (Gn 2,18). O fundamento da família é a união entre um homem e uma mulher, no sacramento do matrimonio, para o bem deles mesmos, dos filhos e da sociedade. Como aliança de amor, comunidade de amor a família é a realização das pessoas no amor em distintas experiências: amor conjugal, amor filial, amor fraternal, amor familiar, amor social.
10. Família “escola de valores”, a função educativa, cultural, ética da família tem singular importância. Ela é o primeiro lugar de humanização, célula vital da sociedade, educadora de valores e de limites, promotora das virtudes. Os pais são mestres. Os filhos aprendem imitando. O bem da pessoa e o bom funcionamento da sociedade estão conexos com o bem-estar conjugal e familiar.
11. Família “célula da sociedade”. É a primeira comunidade, portanto, existe antes da sociedade e do Estado e tem direitos próprios e inalienáveis. A sociedade e o Estado estão para a família, ela é a célula do organismo social. Cabe ao Estado defender e proteger a família com políticas públicas efetivas.

Vivência familiar

Os estudiosos do comportamento humano são praticamente unânimes em afirmar que a qualidade da vida humana depende basicamente da estrutura da família. O projeto de Deus e da Igreja coloca a família como berço da vida, escola dos valores e alicerce natural da sociedade.
É bom saber que toda estrutura da criação é de ordem familiar, desde a formação das galáxias até a estrutura interna do átomo. A própria estrutura dos órgãos e das células do corpo humano é de ordem familiar. Romper esta ordem é adoecer o cosmos, a estrutura da criação, das criaturas e do corpo humano. Então agora pergunto: Se tudo é família, existe e vive numa relação de estrutura familiar, como questionar que a família é fonte e santuário da vida?

Não somos apenas seres finitos em nossa estrutura pessoal. Somos seres espirituais. Como seres espirituais somos formados por uma estrutura humano-divina. Somos seres nascidos no tempo, mas em nossa vocação maior somos feitos para além do tempo, para a eternidade.
Para um cristão é impensável buscar esta sólida vivência em família fora dos ensinamentos de Deus. Como é possível ser pleno na relação amorosa entre homem e mulher, pais e filhos longe do que Deus nos ensinou? Dentro da criação e das criaturas, nós humanos somos os únicos seres dotados de uma natureza humana e divina. Somos chamados a viver e a existir segundo nossa vocação maior de "imagens de Deus" Gn 1,26.

Existir e viver "como imagens de Deus" não é ter um rosto humano determinado. Deus tem o rosto de todos os povos e de todas as pessoas. Ser e existir como "imagens de Deus" é sermos imitadores de sua vida. É buscarmos viver uma vida de comunhão no amor e na partilha, no espírito de fraternidade e de solidariedade humana e espiritual com todos, não importa a condição social, a cor, a raça, o credo ou religião. Somos filhos e filhas do mesmo Deus Pai, chamados a uma vida feliz, dotados da mesma dignidade e dos mesmos direitos na participação dos bens da criação, como dos bens do progresso das conquistas humanas.
Acima de tudo viver e existir como imagens de Deus é ter a consciência que em virtude dos méritos da redenção de Cristo todos somos chamados a viver no compromisso do amor mútuo, na busca da justiça para todos, particularmente da justiça pra com os mais pequeninos e feridos, formando a grande família humana a caminho da casa do Pai, a eternidade.

Qual sua importância na vida das crianças?


Viver e crescer inserido dentro de uma família é de fundamental importância para a criança. Tem um filósofo alemão chamado Phillip Lersch, ele é autor de um livro chamado ‘Estrutura da Personalidade’, nesse livro ele traz o tema da família: ele comenta que a família é muito mais que uma construção social, não é uma invenção humana para responder suas necessidades, principalmente social, a família faz parte do cerne do homem, é a essência do ser humano. A família é como o ar que respiramos e como a comida que necessitamos; como não podemos viver sem o ar e sem comida, também não podemos viver sem a família; como o corpo precisa do ar e do alimento para crescer em estatura, o ser humano precisa da família também para poder desenvolver em sabedoria.
Sem a presença do ar e do alimento nosso corpo pode perder suas funções vitais, pode atrofiar-se e a tendência é o caminho da morte desse corpo, assim também acontece quando um ser humano não cresce dentro de um seio familiar. A família é fundamental para o desenvolvimento e crescimento do ser humano. Veja bem, uma criança inserida dentro de uma família, o seu crescimento é completo: cresce fisicamente, psiquicamente e espiritualmente.
Quando comento sobre a dimensão espiritual do ser humano não reduzo somente à sua religiosidade, mas sobre a sua vivência no mundo, com tudo aquilo que ele colhe sob a influência do mundo e o que ele interfere no mundo por causa de sua presença. Dentro disso, podemos pensar que é no seio familiar que a criança vai firmando e tornando mais claro seu sentimento de pertença, ou seja, só sentirá que pertence a uma raça, a uma nação, um estado, um município, um bairro e até mesmo uma religião, porque primeiro sentiu que pertence a algo, a alguém, ou melhor, pertence a uma família; é dentro da família que a criança vai adquirindo os valores, tantos os valores universais, morais, éticos, como os valores religiosos, é na família que ela experimentará a vivência das virtudes, o sentimento de justiça, é ali quando se percebeu livre e amada que aprendeu a sair de si para ir ao do outro; é a família que ajudará a criança a desenvolver uma presença afetiva, responsável e livre no mundo e que ajudará a pessoa a ser verdadeiramente humana.

"Família, Berço do Amor e da Vida"

A família em si é a razão de ser e existir do projeto criador na origem da humanidade: “E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher. E Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sejam fecundos, multipliquem-se’ [...] Por isso, um homem deixa seu pai e sua mãe, e se une á sua mulher, e eles dois se tornam uma só carne” (Gn 1,27-28; 2,24).

Acredito que hoje muita gente sente falta e tenta se conformar com o que tem.Mas esse problema vem se agravando porque não há um planejamento para construir uma família.

Família não é só ter mãe e pai juntos dentro de casa.Família eu entende ter união, parceria dentro de casa.È claro que a presença da família tradicional é maravilhoso.eu acho.
Existe ainda muitas pessoas que não dão valor o que possuem .Sei que toda família tem seus problemas de convivência ,mas pense quem não tem família. Aquela que te dar o ombro pra te consolar, um sorriso, um elogio, se preocupa se vc está bem, se está alimentado,está estudando...
"Deus não coloca um fardo maior que vc não possa carregar".Mas muitas vezes reclamamos e não entendemos.Temos que pensar que no futuro com o aprendizado que tiramos no passado encontremos dias melhores, só não podemos perder as esperanças, o amor, o humor, a alegria de viver, apesar das dificuldades.
Se vc não tem uma família que vc tanto desejava agora, pense em construi-la no futuro.DEUS te deu o livre arbitro para escolher seu caminho. E sempre temos que escolher e decidir ,mas cuidado não vá pelas aparências elas enganam , analise ;vc é um ser pensante, o mais evoluído das criaturas de Deus.
Na vida pra prosperarmos precisamos de bons alicerces e através da família que nos incentiva , aprendemos, cuidamos, temos alegrias e tristezas para crescermos como pessoas.